No seu discurso, Bolsonaro alerta forças conservadoras de direita e extrema-direita para o desafio as eleições municipais

Só no fim do discurso na Avenida Paulista, neste domingo (25), é que Jair Bolsonaro (PL) tocou no ponto que mais interessava a boa parte dos aliados e correligionários políticos que enfrentaram o calor para participarem do ato chamado pelo ex-presidente: as eleições de 2024, quando pediu aos apoiadores que “caprichem no voto”. A senha dada é um alerta às forças do conservadorismo para que a direita e a extrema direita despertem para o grande desafio no pleito municipal, que terá reflexos em 2026.

Bolsonaro, que sai fortalecido com o ato, está inelegível até 2030, mas deixou uma mensagem clara na Paulista, a de que “o futuro a Deus pertence”, o que deixa sempre a hipótese de que tentará sempre derrubar a decisão para estar no jogo.

“Não podemos concordar que um poder tire do palco político quem quer que seja, a não ser por um motivo extremamente justo. Não podemos pensar em ganhar as eleições afastando os opositores do cenário político”, assegurou, enquanto discursava com um colete à prova de balas.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, cerca de 600 mil pessoas foram ao ato na Paulista. Os organizadores dizem que foram 700 mil, conta que já havia sido antecipada na quinta-feira (22), pelo advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten.

O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, estava no palanque a poucos centímetros do presidente, ladeado pelo também governador Tarcísio de Freitas, de São Paulo, de Michelle Bolsonaro e do pastor Silas Malafaia, que organizou a manifestação com direito a trio elétrico. O trio ficou parado em local próximo onde Luiz Inácio Lula da Silva fez o discurso da vitória, depois de encerrada a apuração em 2022.

REPRESENTANTES DE SANTA CATARINA NA MANIFESTAÇÃO

Governador Jorginho de Mello de Santa Catarina antecipou o retorno de uma viagem oficial aos Emirados Árabes Unidos em um dia para estar na Paulista e, antes da manifestação, falou em lealdade a Bolsonaro.

A deputada federal Daniela Reinehr (PL), ex-vice-governadora do Estado, e uma das mais influentes no governo Jorginho Mello, também esteve presente. Ela publicou vários momentos nas redes sociais, em um deles divide espaço com muita gente no trio elétrico. 

PEDIDO PARA ANISTIAR OS PRESOS PELO 8 DE JANEIRO DE 2023

Bolsonaro adotou um discurso mais brando, de pacificação, dizendo para “passar uma borracha no passado”, ao pedir aos deputados federais e senadores apoio a um projeto de anistia para os presos pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes, na Capital Federal.

O ex-presidente chamou os aliados presos de “aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília. Nós não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos”, e acrescentou o que ocorreu em 1979, com a anistia ampla geral e irrestrita a militares e ativistas da oposição ao regime militar, que, segundo Bolsonaro, promoveu a conciliação, com “quem fez barbaridade no Brasil”.

Bolsonaro ainda afirmou que não concorda com quem depredou o patrimônio público e que quem o fez, deve pagar. As penas, de acordo com o ex-presidente, “fogem ao mínimo da razoabilidade”. De três a 17 anos – 86 participantes dos atos golpistas já foram condenados e mais 15 começam a ter a situação analisada esta semana pelo plenário virtual do STF. Os condenados também terão que pagar pela depredação, um prejuízo avaliado em R$ 30 milhões.

SEM CARTAZES OU CITAÇÕES ‘A QUER QUER QUE SEJA’

Salvo algum cartaz em que pediam, em inglês, para que Deus afastasse o Brasil do comunismo, o pedido de Bolsonaro de não levarem cartazes foi cumprido.

Sem citar o Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Alexandre de Moraes ou a Polícia Federal, o ex-presidente também lamentou o que classificou como “abusos por parte de alguns”. Investigado em um inquérito que apura uma suposto plano golspita para evitar a posse de Lula, após a derrota nas eleições de 2022 e em outros casos, como possível desvio de joias recebidas por seu governo, Bolsonaro se diz “perseguido”, o que era, desde o chamamento do ato, o ponto central da questão, o direito de defesa do ex-presidente.

“Saí do Brasil e essa perseguição não terminou. É joia, é questão de importunação da baleia, dinheiro que teria mandado para fora, é tanta coisa que eles até mesmo acabam trabalhando contra si”, listou. E acrescentou: “O que é golpe? É arma, tanque na rua, conspiração, trazer classe política para seu lado, empresariais. Nada disso foi feito no Brasil. Agora, o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de Estado de Defesa. Golpe? Usando a constituição? Tenham santa paciência”.

Bolsonaro garantiu o registro de que tanto falava. Disse que o ato deste domingo foi convocado para haver a “fotografia para o Brasil e mundo do que é a garra e determinação do povo brasileiro”. E concluiu:

“Com essa fotografia, mostramos que podemos até ver um time de futebol sem torcida ser campeão, mas não conseguimos entender como existe um presidente sem povo ao teu lado”, afirmou, sem citar nominalmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro reforçou a posição da mulher, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, virtual candidata em 2026, resta saber em que posição na eleição majoritária. Pegou na mão de Michelle e disse, “o que é um homem sem família. No discurso que fez emocionada, Michelle realizou uma oração e afirmou, ao final do pronunciamento, que “abençoamos Israel em nome de Jesus”.

EPISÓDIO SEM EXPLICAÇÃO PLAUSÍVEL

Detido na manhã de domingo (25) no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, o cidadão português Sérgio Tavares virou “herói” dos apoiadores de Bolsonaro antes da Polícia Federal explicar o real motivo da detenção dele, após chegar ao Brasil. O fotógrafo não tinha visto de trabalho para atuar no Brasil, pois veio registrar profissionalmente o evento na Paulista. Mais tarde, foi liberado pelas autoridades e subiu no palanque de Bolsonaro para prometer que as imagens feitas durante o ato iriam rodar a Europa e todo o mundo para “levar a verdade sobre o Brasil”.

O deputado federal Zé Trovão (PL) estava próximo ao português no palanque. Antes, nas redes sociais, se manifestou nas redes sociais sobre a multidão que estava na Paulista.

Já o pastor Silas Malafaia, organizador do evento, avisou que falaria do ministro Alexandre de Moraes e disse que o integrante do STF tem lado porque é contra a extrema direita. Malafaia também mandou recado à investigação sobre o que pode ser o próximo passo das apurações: prender Jair Bolsonaro. Quase escondido, sem poder falar ou ter contato com Bolsonaro, o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, foi à Paulista. (SCC10).

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