Os campeões da baderna
——–PAULO GOUVÊA/SC EM PAUTA)———
No ano passado, o Brasil não ganhou a Copa do Mundo. Estou falando do futebol masculino. Somos pentacampeões, o que já é muito, mas não chegamos ao hexa. A quebra das expectativas levou, na época, um monte de gente a especular sobre as causas. Por que, afinal, deixamos de ter o melhor futebol do mundo? Motivo é o que não falta. E hoje quero falar de um deles: a esculhambação que impera nos jogos, devido à falta de civilidade e segurança. As cenas que a gente viu na última Copa – famílias juntas, adultos e crianças, torcendo em paz e com alegria – isso não acontece mais na maioria dos estádios brasileiros. O que temos é briga, agressão, bandalheira de toda a espécie. Até o homicídio. E o que mais impressiona nestes casos e em outros, nem é tanto a existência de desordeiros nas praças esportivas – eles estão em qualquer lugar do País e do mundo – o que assusta mesmo é a impotência das autoridades para enfrentá-los e defender a população.
Tal incapacidade não se limita à questão do futebol. Por todos os lugares do Brasil, as pessoas estão recuando, se escondendo, se curvando ao poder dos bandidos. Fora e longe dos estádios, as autoridades de segurança pública pedem à população que nunca reaja a um assalto, que entregue tudo o que é seu passivamente. A ordem é baixar a cabeça, sofrer a vergonha de ser roubado e ainda agradecer aos bandidos se pouparem nossa vida. No futebol, fazem jogos vazios, sem público; já expulsaram de alguns estádios algumas torcidas organizadas e bagunceiras. Tudo isso está certo. Mas é triste esta humilhação.
É doloroso ver o povo de um país perdendo o direito de andar nas ruas ou ir a um jogo de futebol. Ser livre é não ter medo de sair por aí, em segurança. E também, claro, de não ser perseguido por autoridades ou superiores de qualquer tipo, de falar, de dar sua opinião – mesmo que seja um palpite bem furado. Só não pode é impedir que o outro seja livre. Mas este já é outro tema.
Quem sabe agora a sempre viva dor da derrota, aquela que nos ensina a gemer, ou seja, a reclamar e ir em busca de soluções, inspire uma reviravolta do tipo que os ingleses fizeram há anos, eliminando os “hooligans”, os seus baderneiros. Este seria um ótimo propósito. Sem isso, ninguém vai nos dar o hexa. Nem o Ancelotti.