Tragédia de Blumenau é a desumanização de uma civilização

———(* Marcelo Lula)———-

Confesso aos caros leitores que essa é uma coluna difícil de escrever, pois, diante do que aconteceu ontem em Blumenau, me senti impotente como pai e como jornalista. O fato é que estou sem a mínima inspiração e por isso já lhes peço desculpas.

Compartilho com vocês algumas reflexões que fiz durante o dia de ontem. Desde já, digo que todos que conhecem o meu trabalho, sabem que não sou adepto dos discursos extremos que em nada contribuem. Mas se for extremismo acreditar que policiais podem fazer a guarda de escolas portando armas, que assim seja, pois, o não olhar para a realidade por conta da visão de um mundo cor de rosa é que tem atrasado ações efetivas, as quais, no mínimo, reduziriam o número de casos covardes como o que vimos ontem.

Se por um lado a escola deve ser um ambiente lúdico, onde o aprendizado, o debate e o estímulo a discussões profundas sobre sociedade devem imperar para a boa formação do cidadão, por outro lado, não podemos desconsiderar que vivemos em um mundo violento e, se fechar para essa realidade nos impõe riscos que não precisamos passar.

Um exemplo é termos seguranças bem treinados, ou policiais armados dentro das escolas. Para alguns educadores essa situação geraria um ambiente belicoso e violento, quando na verdade é bem o contrário. Teríamos nesses profissionais um meio de inibir a ação de criminosos, sem contar, que seria a oportunidade de aproximar as crianças da polícia, gerando uma relação de confiança e respeito.

Não se enganem. Apesar do poder transformador da educação e os professores tem essa grande arma a favor da sociedade, isso precisa estar casado a vontade do aluno que, ao optar pelo crime, fechará seus olhos e ouvidos para qualquer tipo de ensinamento que lhe for proposto. É para esse tipo de caso que a força age em benefício da sociedade.

Mas fora a questão de segurança, acho que o acontecimento de ontem serve para reconhecermos a falência da nossa sociedade, o que é um fato perturbador. Nos perdemos no meio do caminho ao darmos a permissão para a naturalização da violência, como se fosse algo do cotidiano, como se as vítimas fossem apenas um número, quando na verdade, acontecimentos como o de ontem são escatológicos, fora de qualquer nível de entendimento porque eles não lidam com número. São pessoas ceifadas da vida de outras pessoas que se amavam, que tinham uma história, sonhos e planos, mas que em questão de segundos são levadas para nunca mais voltar.

Resta aos pais e mães de Blumenau velarem os seus filhos, e depois voltarem para casa para juntar o que ficou. Não falo apenas do tênis jogado no quarto, da roupa que estava para lavar, do brinquedo que não foi guardado e que não será mais usado, nem da cama que ficará vazia. Falo principalmente das lembranças que nunca se apagarão, dos sonhos que não se realizarão e da saudade e do amor que se misturarão ao vazio provocado por uma partida precoce, de um adeus ao avesso provocado pela desumanização de uma civilização.

AÇÕES

Vale destacar algumas ações de ontem:

– A serenidade do prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt (Podemos), e das demais autoridades frente a uma tragédia brutal;

– A ida do governador Jorginho Mello (PL) a Blumenau, assim que soube da tragédia;

– O anúncio de recursos do Governo Federal para rondas em frente as escolas;

– O importantíssimo trabalho de orientação do Sindicato dos Jornalistas e do professor, Rogério Christofoletti, para que o trabalho fosse o mais responsável possível, incluindo, a não divulgação do nome e nem imagem do assassino para evitar a glamourização;

– A rede de apoio e solidariedade aos pais e familiares das vítimas;

– O anúncio do prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), de mais investimentos em ações para proteger as escolas de ataques. Há algumas semanas Rodrigues já havia anunciado o aumento de escolas beneficiadas com portas giratórias.

(* Marcelo Lula é jornalista do Site SC em Pauta).

 

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