Dez fatores que fazem de Pelé o Rei do Futebol!

Nos últimos dias, ganhou força nas redes sociais a ideia de que o argentino Lionel Messi desbancou o brasileiro Pelé como rei do futebol. Isso porque ambos estão em evidência no momento. Messi, porque foi campeão da Copa do Mundo de 2022, no Catar, há uma semana. E Pelé, porque está com problemas de saúde. Internado há quase um mês, tem chamado a atenção da mídia – vários jogadores da Copa, Messi inclusive, mandaram mensagens de melhoras para o Rei.

A comparação ganha força porque as gerações mais jovens não viram Pelé jogar. E as gerações mais antigas não admitem que um dia ele possa ser destronado. Para isso, é preciso contextualizar Pelé. Assim, nada melhor que citar 10 fatores que fizeram dele o Rei do futebol.

Pelé e a Copa do Mundo

Copa do Mundo é o torneio mais difícil e prestigiado de todos, e Pelé é o único jogador a ganhar três títulos. Foi campeão pela primeira vez em 1958, com 6 gols e 1 assistência em 4 jogos. Dois desses gols foram marcados na final contra a Suécia. Pelé, nascido em 23 de outubro de 1940, tinha 17 anos na época. Até hoje é o jogador mais jovem a fazer gol em Copas e a se sagrar campeão mundial. Em 1962, fez 1 gol e deu 1 assistência na estreia contra o México, mas se machucou contra a Tchecoslováquia, na segunda partida, e ficou de fora no resto da campanha que levou o Brasil ao bicampeonato. Em 1970, marcou 4 gols e deu 5 assistências na campanha do tricampeonato – dependendo do critério, foram seis passes para gol: a jogada individual de Jairzinho para marcar o 4º gol diante dos tchecos começou de um passe de Pelé, ainda no campo de defesa do Brasil. Na final contra a Itália, o Rei abriu o placar e deu duas assistências, para os gols de Jairzinho e Carlos Alberto.

Os gols de Pelé

Na carreira, Pelé soma 1.283 gols em 1.397 partidas. Cada gol ganhou uma medalha comemorativa e cada medalha foi leiloada, com a renda destinada a entidades que cuidam da saúde de crianças. Alguns historiadores consideram que são 1.282 gols, ainda assim contando todos os jogos. Com a camisa da seleção, foram 114 partidas e 95 gols. Contudo, o revisionismo da Fifa diz outra coisa: 92 jogos e 77 gols pela seleção, e 767 gols em partidas oficiais. Isso porque a entidade não considera partidas “não oficiais”, como duelos de seleções contra clubes e equipes combinadas (como “combinado de Grêmio e Internacional”). O que não altera fatos: Pelé esteve nesses 22 jogos não oficiais do Brasil e fez 18 gols. Bônus: aos 21 anos, Pelé já contabilizava 479 gols, mais que o dobro da somatória de Messi (51), Mbappé (116) e Cristiano Ronaldo (36) com essa mesma idade.

No tempo dele não era necessariamente mais fácil

Nas redes sociais, é fácil ver gente dizendo que, se jogasse atualmente, Pelé não teria feito a metade dos gols que fez. Há quem diga que faria o dobro. Na época de Pelé, não havia marcação em duas linhas de quatro, que tira espaços. Por outro lado, os campos eram bem piores, os uniformes eram de algodão e pesavam mais no corpo. E a bola não era tão precisa. Quanto à marcação, Pelé sempre sofreu marcação dobrada. Com um detalhe: os zagueiros eram muito mais violentos que hoje, já que as advertências eram raras e as expulsões, quase inexistentes. E as arbitragens menos padronizadas e com menos suporte de tecnologia.

Pelé criou “o gol que Pelé não fez”

Aos 42 minutos do primeiro tempo contra a Tchecoslováquia, na Copa do Mundo de 1970, Pelé viu o goleiro Ivo Viktor adiantado e arriscou um chute ainda de seu campo, a quase 60 metros do gol. A bola subiu, pegou velocidade de 105 km/h, desceu e saiu a uns 40 cm da trave esquerda. O lance deixou o mundo inteiro perplexo. Havia a ideia generalizada de que, até então, ninguém tinha tentado aquilo. Até hoje, a jogada é chamada de “o gol que Pelé não fez”.

Completo

A maneira de jogar de Pelé sempre foi alvo de análises. Mesmo porque os adversários precisavam dar um jeito de pará-lo. Sinteticamente, ele era perfeito em todos os fundamentos, como drible, chute (com as duas pernas) e cabeceio, além de ter técnica, velocidade e força. Conseguia finalizar a gol uma fração de segundo antes da percepção dos goleiros, o que fazia a diferença para o goleiro defender ou não. Apresentava uma visão periférica acima da média, o que lhe dava melhor visão de jogo. Tinha rapidez de raciocínio. Era imprevisível. Possuía uma condição atlética superior ao padrão da sua época. Além disso, um fator pouco citado por analistas, mas muito citado por outros jogadores: Pelé conseguia sair driblando para os dois lados, o que transformava a vida dos zagueiros adversários em um tormento.

Parou uma guerra. Ou não

Em 1967, havia começado a guerra de Biafra, ou Guerra Civil da Nigéria, que durou até 1970 e deixou mais de 2 milhões de mortos. Em 1969, o Santos de Pelé foi levado para a Nigéria a convite do governo local para enfrentar uma seleção da região do centro-oeste, onde está Benin City. A história que os santistas relatam é que o governo nigeriano decretou um cessar-fogo para que eles pudessem ir do hotel ao estádio Ogbe em segurança e depois retornar. O único jornalista brasileiro que acompanhou a delegação, Gilberto Castor Marques, escreveu para o jornal ‘A Tribuna’ que foi decretado feriado local por causa do Santos – que venceu o jogo por 2 a 1. “O Santos parou uma guerra!”, disse o atacante Edu. Contudo, o antropólogo José Paulo Florenzano diz que o Santos não só não parou a guerra como foi usado como propaganda política do governo local.

Celebridade, mas não popstar

Pelé é uma celebridade que nunca teve comportamento de popstar. Durante a carreira no futebol, ele era considerado um “jogador de grupo”, sem privilégios especiais. Treinava tanto quanto (ou mais que) os colegas. Não se queixava de comida ruim ou instalações deficientes quando rodava pelo interior de São Paulo. Quando já era campeão do mundo, Pelé teve que prestar serviço militar em 1959, aos 18 anos. De acordo com o Centro de Memória do Santos, ele era o Soldado 202 Nascimento e não tinha regalias – nem reclamava de limpar coturno ou ficar de sentinela. Mesmo nos últimos 23 anos, quando passou a viver da própria imagem, não recusava autógrafos ou posar para fotos – para desespero dos assessores, que tinham a obrigação de blindá-lo.

Fez a maior dupla de ataque da história

Há quem diga que Pelé-Garrincha é a maior dupla de ataque da história, não apenas da seleção brasileira, mas de toda a história do futebol. A verdade é que, juntos, jamais foram derrotados. Pela seleção, eles somam 40 partidas lado a lado, com 36 vitórias e quatro empates, e marcaram 55 gols (44 do Rei e 11 do Anjo das Pernas Tortas). A única vez em que Garrincha foi derrotado atuando pela seleção foi na Copa de 1966 – 3 a 1 para a Hungria, numa ocasião em que Pelé estava machucado.

Brasileiro mais conhecido do mundo

Pelé tornou-se o brasileiro mais conhecido no mundo inteiro, graças ao seu prestígio no futebol. Sem exercer cargos políticos. Mesmo em Nova York, uma cidade cheia de celebridades, o Rei não conseguia sair na rua sem dar autógrafos. Isso o salvou até mesmo em uma situação inusitada. Uma vez, ele saía de carro, com boina e gola rolê, da sede do Santos. Foi abordado em um sinaleiro. Era um assalto. Quando os assaltantes viram quem era a vítima, não levaram nada. E ainda pediram desculpas.

Atleta do século

O revisionismo pode um dia ajudar alguém a quebrar o recorde de gols de Pelé pela seleção. Mas mesmo isso não quebra outros fatos. Pelé foi eleito atleta do século 20 pelo jornal francês ‘L’Èquipe’ em 1981 e pelo Comitê Olímpico Internacional em 1999.

(BEM PARANÁ).

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