As manifestações políticas e a consagração de Richarlison na primeira vitória do Brasil na Copa do Mundo
Era o segundo tempo. Depois do empate sem gols no primeiro tempo, o Brasil entrou disposto a vencer. No primeiro gol, Neymar partiu para dentro da grande área driblando a zaga da Sérvia. Vini Jr. chutou e o goleiro Vanja rebateu. Richarlison aproveitou o rebote e marcou. No segundo gol, Vini Jr. deu o passe. Foi quando então o “pombo” Richarlison voou. Pegou a bola num belíssimo voleio e coroou a estreia do Brasil na Copa do Qatar com um golaço. Dois a zero. Dois gols de Richarlison.
Era a consagração de um jogador que se destaca na seleção brasileira por suas posições políticas e sociais. Quando no início do ano passado, a incompetência do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, fez com que centenas de pessoas morressem em Manaus por falta de oxigênio, Richarlison correu para doar cilindros à população da cidade e minorar a tragédia.
Como já mostrava o Congresso em Foco em novembro de 2020, o camisa 9 da seleção se destaca por suas manifestações políticas. Atuante nas redes sociais, o jogador de 25 anos, atacante do Tottenham da Inglaterra, também expressa posições políticas em entrevistas pós-jogo.
“Quando tiver uma causa importante eu sempre vou botar a cara, ainda mais jogando na seleção e na Inglaterra. Eu tenho essa visibilidade e sei que as autoridades olharão com carinho”, afirmou, durante entrevista coletiva da seleção em 2020.
Naquela ocasião, no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, o atacante fez um desabafo sobre o assassinato de João Alberto Siqueira de Freitas por dois seguranças de uma unidade da rede Carrefour. “Parece que a gente não tem saída… Nem no dia da Consciência Negra. Aliás, que consciência? Mataram um homem negro espancado na frente das câmeras. Bateram e filmaram. A violência e o ódio perderam de vez o pudor e a vergonha. George Floyd, João Pedro, Evaldo Santos foram em vão?”, escreveu ele no Twitter, rede social em que conta com mais de 430 mil seguidores.
Em maio daquele mesmo ano, Richarlison já tinha se manifestado sobre o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, que marcou o início do movimento “Vidas Negras Importam”. No mesmo mês, manifestou-se também sobre a morte do adolescente negro João Pedro, baleado dentro de casa durante uma operação policial em São Gonçalo, município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Em maio, Richarlison também se manifestou sobre dois casos de racismo nos Estados Unidos e no Brasil: o de George Floyd, homem negro estrangulado por um policial branco que ajoelhou em seu pescoço durante uma abordagem policial em maio deste ano; e o do menino João Pedro, adolescente negro baleado dentro de casa durante uma operação policial em São Gonçalo, município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, no mesmo mês.
No caso Mariana Ferrer, Richarlison também manifestou repúdio à absolvição do acusado de estupro da jovem influencer. Ele também retuitou uma mensagem indignada da atriz Bruna Marquezine, que dizia “‘Estupro culposo’ pqp”.
EMBAIXADOR DA VIDA
Enquanto o governo Jair Bolsonaro destacava-se por seu negacionismo, Richarlison foi convidado para ser embaixador da USPVida, campanha da Universidade de São Paulo (USP) voltada a ajudar a ciência universitária a encontrar soluções contra a pandemia. “O coronavírus é um inimigo invisível e perigoso”, diz ele em vídeo. Em seu site, ele pede doações para financiamento das pesquisas…
Apelidado de “pombo” por uma dança simulando um pombo que virou sua marca registrada após comemorações de gols, Richarlison é colega e amigo de Neymar, que tem posições políticas bem distintas. Neymar declarou apoio à candidatura à Presidência do presidente Jair Bolsonaro, que foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva.
(RUDOLFO LAGO/CONGRESSO EM FOCO).