Enquanto o Hospital São Braz e outros do Estado passam por dificuldades, contribuinte catarinense paga quase R$ 3,3 milhões para tratamento de um deputado do MDB

No dia 30 de junho de 2017 o deputado estadual Aldo Schneider (MDB) recebia alta do hospital Albert Einstein, em São Paulo. Saiu de lá com uma prótese implantada entre a quinta e a sexta vértebra da coluna cervical, onde foi retirado um tumor. No mês seguinte, chegou a conta para os cofres da Assembleia: um pedido de ressarcimento no valor de R$ 211.619,00. Esse foi o primeiro valor de seis dígitos da sequência que viria a seguir e que acumularia um montante de R$ 3.299.632,50 nos últimos quatro anos.

Schneider: R$ 3,29 milhões e cirurgia no Albert Einstein. Valmir: tratamento pelo SUS e visitas diárias ao Cepon - Flávio Tin/Daniel Queiroz/ND
Schneider: R$ 3,29 milhões e cirurgia no Albert Einstein. Valmir: tratamento pelo SUS e visitas diárias ao Cepon – Flávio Tin/Daniel Queiroz/ND


Os dados disponíveis no Portal da Transparência da Alesc mostram o aumento das despesas médicas do deputado, que está passando por um tratamento contra o câncer. Em 2015, um ano antes da doença ser diagnosticada, o deputado Aldo Schneider apresentou notas e comprovantes para solicitar o reembolso de R$ 11.130,02. No ano seguinte, o valor aumentou para R$ 64.797,85. Já em 2017, os cofres da Assembleia liberaram a cifra de R$ 2.451.319,90 para o pagamento das despesas médicas do parlamentar. Até o dia 13 de julho deste ano, o reembolso de 2018 acumulou R$ 772.384,73. Juntos, os valores chegam ao montante que supera os 3 milhões de reais.

O volume dos gastos chama a atenção. A quantia é o suficiente, por exemplo, para atender 5 mil pessoas durante 15 dias no Cepon (Centro de Pesquisas Oncológicas), em Florianópolis, com cirurgias, exames, quimioterapias e radioterapias inclusas.

As palavras de descontentamento com a informação de que os deputados possuem verba ilimitada para tratar da saúde vieram de um servente de obras que está afastado do trabalho desde o início do ano. A dor vence a morfina e não deixa o senhor Valmir Steimbach, de 50 anos, falar. Ele precisa balbuciar as palavras por causa do tumor de nove centímetros que está alojado na garganta.

Para poupar o marido, Vânia Steimbach, 46, toma as rédeas da conversa. “Ele não pode fazer força para falar. Sente muita dor. Não consegue virar a cabeça. Está tomando cinco remédios diferentes. Todos os dias viemos no Cepon. Ele acorda de madrugada e passa o dia todo com dor. Para comer, só líquido. Dói muito para falar”, conta. Enquanto a mulher descrevia a situação do marido, Valmir forçou a voz e foi taxativo: “tinha que tratar aqui como a gente”.

Passe livre incondicional nas despesas médicas

Apesar da aberração financeira, não há ilegalidade. A resolução DP 090 de 1992 dá acesso ilimitado e irrestrito para todos os parlamentares do legislativo de Santa Catarina usufruírem de assistência médica, exames, e inclusive as despesas do acompanhante. Para o cientista político do Ibmec (Instituto Brasileiro de Capitais) de Minas Gerais, Adriano Gianturco, o tema envolve uma questão ética. “Do ponto de vista humano, é compreensível que realize tratamento e busque melhorar a saúde. Todo mundo concordaria com isso. A questão é se isso é justo enquanto tantas pessoas aguardam atendimento”. (Notícias do Dia, jornal que circula na região de Florianópolis).

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