Agronegócio terá recorde histórico de exportações em 2021

As exportações do agronegócio brasileiro devem alcançar US$ 120 bilhões neste ano – 20% a mais do que em 2020 e recorde histórico – e contribuir com saldo positivo de pelo menos US$ 100 bilhões na balança comercial. A estimativa é de Marcos Jank, coordenador do centro Agro Global do Insper e especialista do setor.

O recorde pode e deve ser festejado. Mas é bom lembrar que está entre os fatores de aumento da inflação de alimentos no país – algo que, na visão de Jank, deve ser contornado com maior produção e/ou abertura para os produtos agrícolas importados.

Para o especialista, essa onda favorável é resultado de uma “combinação de astros”: o real desvalorizado, que torna os produtos menos caros para o importador, e a demanda aquecida na China e em outros países asiáticos. Outro astro importante é a disparada dos preços das commodities agropecuárias no mercado internacional.

“Estamos vivendo um boom nos preços com duração em aberto, mas que irá até 2023, pelo menos. Dali para a frente, a demanda continuará aquecida, até por causa da recuperação das economias. Se a oferta não acompanhar a demanda, teremos um boom mais longo, como nos anos 1970 e 2000”, disse Jank ao Poder360.

ONDA PROTECIONISTA

Marcos Jank, especialista em agronegócios, diz que solução para a inflação é aumento de oferta, com a expansão das lavouras para os pastos.

Durante a entrevista, Jank criticou especialmente o elevado grau de protecionismo do Brasil – inclusive na área agrícola. Ele concorda com o corte unilateral de tarifas de importação do Mercosul, como propôs o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Mas lembra que o benefício dessa medida estará na maior integração da produção do bloco com as cadeias internacionais – e não nas futuras negociação de acordos comerciais, como argumenta Guedes.

“Está é uma agenda perdida neste governo, como foi nos do PT. Vamos ser sinceros: a gente não faz nada desde 2002. A gente perdeu a onda dos acordos comerciais”, afirmou, reforçando que EUA, Europa e Ásia se moveram de forma ambiciosa nessa direção.“Nós ficamos a ver navios.”

Para o especialista em agronegócios, as chances de o Brasil – com ou sem os seus sócios do Mercosul – correr atrás do atraso nessa agenda não são nada factíveis. O obstáculo está no protecionismo em escalada no mundo todo. “Depois da pandemia, haverá tendência protecionista”, afirma Jank.

Ele explica que muitos países estão se valendo das expressões “soberania alimentar” e “autossuficiência”, que na prática significam proteção aos seus setores agropecuários.

A adoção de barreiras técnicas sanitárias e fitossanitárias deve ser outro instrumento à mão. E uma nova carga de subsídios que distorcem o comércio começa a ser liderada por governos ao setor.

“A China hoje subsidia mais a sua agricultura do que a União Europeia inteira”, afirmou, referindo-se ao bloco que, há décadas, distribui volumosa subvenção a seus produtores agrícolas.

VILÃO E VÍTIMA

A esse contexto negativo, soma-se o fato de o agronegócio brasileiro ter se transformado em vilão mundial do desmatamento. Jank explica que, por não ter feito sua lição de casa, o Brasil desmata menos atualmente -cerca de 1 milhão de hectares ao ano- do que em 2004 -3 milhões de hectares ao ano. Mas não adianta mais valer-se desse argumento.

O atual governo não foi capaz de trazer a média anual de desmatamento para o nível registrado de 2005 a 2012 -de 500 mil hectares ao ano. Hoje, derrubar 1 milhão de hectares, com as cenas dos incêndios e dados precisos que alcançam o mundo inteiro, é a receita perfeita para os ataques à agropecuária brasileira.

“A Amazônia é tema de maior visibilidade do Brasil do que samba e futebol. Está  nas escolas do mundo todo”, afirmou. “Por 8 anos, o governo reduziu o desmatamento em 80%. Temos esse exemplo há 15 anos. Por que não conseguiríamos fazer o mesmo no espaço de dois governos?”

Jank assina que, se o agronegócio brasileiro é apontado como vilão, de fato pode se tornar vítima e solução. Vítima porque os efeitos do desmatamento na Amazônia já são sentidos em regiões produtoras que dependem da unidade vinda da floresta. Os veranicos e as secas estão entre eles. E solução porque é o único grande produtor com duas safras ao ano e um dos raros com amplo uso de energia limpa.

Além disso, o Brasil tem um Código Florestal pronto há 12 anos – mas ainda à espera de aprovação pela maioria dos Estados. A opção por ser apenas a vilã, entretanto, já começa a trazer efeitos no financiamento de exportações nos investimentos do setor. (PODER360).

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