Governador de Santa Catarina acredita no arquivamento do impeachment e nega possibilidade de lockdown

As ações do governo nesse um ano de pandemia, tratamento precoce contra a Covid-19 e a votação do relatório sobre a denúncia no pedido de impeachment, referente ao caso dos respiradores, foram alguns dos temas comentados pelo governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL). Ele esteve nesta quinta-feira (18) na sede do Grupo ND e concedeu uma entrevista exclusiva.

Governador Carlos Moisés concedeu entrevista ao Grupo ND – Foto: Leo Munhoz/ND
Moisés também voltou a reafirmar que a região Sul é o atual epicentro da pandemia no país e defendeu que as vacinas sejam adquiridas e distribuídas através do Plano Nacional de Imunização. O governador negou qualquer possibilidade de decretar lockdown em Santa Catarina, mas sustentou a manutenção de medidas restritivas impostas desde fevereiro passado.
PROCESSO E IMPEACHMENT

 

No próximo dia 26 de março, dez membros do Tribunal Especial de Julgamento, composto por cinco deputados e cinco desembargadores, vão discutir e votar o parecer da relatora, a desembargadora Rosane Wolff, que recomendará o acatamento ou o arquivamento da denúncia contra o governador.

Segundo Carlos Moisés, a expectativa é pelo arquivamento. “Entendemos que o processo não tem justa causa. Sempre foi a tese do governo”, disse o governador. Ele afirmou que a tese foi corroborada com as investigações posteriores. Tanto nas investigações do Ministério Público de Santa Catarina, que o teria isentado de situação do crime de improbidade administrativa quanto nas investigações da Polícia Federal, que segundo Moisés, deve indicar pelo arquivamento.

ATREVESSADORES NA VENDA DE VACINAS

O governador fez um alerta com relação a uma história que se repete com o ocorrido em março de 2020, quando começou uma corrida por parte dos governadores, para aquisição de respiradores.

Moisés alertou que atravessadores têm procurado os estados para vender vacinas – Foto: Leo Munhoz/ND“Várias empresas ofertando vacinas para Covid-19. Os atravessadores novamente”, avisou Carlos Moisés, que reforçou a tese na qual as vacinas devem ser adquiridas pelo Governo Federal e que ele estabeleça as entregas aos Estados.

“Evita com que atravessadores, pessoas mal intencionadas, inclusive aqueles que não têm sequer a garantia de entrega pelo fabricante, possam cotar um processo de compras publicas. Promessas de vendas que não serão cumpridas, como foi o caso dos respiradores”, declarou.

TRAMENTO PRECOCE

Questionado sobre o uso do tratamento precoce para a prevenção da Covid-19, Moisés afirmou que entre abril e maio do ano passado, o governo do Estado adotou o critério no qual o médico teria a liberdade, pactuando com o paciente, de fazer a prescrição dos medicamentos.

Para o governador, tratamento precoce deve ser pactuado entre médico e paciente – Foto: Leo Munhoz/NDO próprio governador, em julho do ano passado, testou positivo para o coronavírus, e fez uso da hidroxicloroquina. “Eu tratei com hidroxicloroquina, o médico que prescreveu pactuou comigo. Ele disse: ‘tem vontade?’, eu disse que sim”, contou Moisés ao lembrar que fez alguns exames para saber se tinha condições de receber a medicação.

O governador revelou preocupação com o surgimento de casos de jovens catarinenses, que estão iniciando o processo para transplantes de fígado, por uso indiscriminado de medicações que compõem o kit de tratamento precoce.

“Fazem uso caseiro, por indicação de rede social. Precisa de um médico para lhe acompanhar e saber se você não tem nenhuma restrição de saúde para o uso de cloroquina e/ou ivermectina. Alguns deles sem comprovação cientifica. Nosso entendimento enquanto governo, é que não se deve privar as pessoas de fazerem essa escolha, se assim elas quiserem proceder. O médico é a autoridade e, em conjunto com o paciente, tem a possibilidade de tomar a decisão”, frisou.

AVALIAÇÃO DO GOVERNO NA PANDEMIA

Para Carlos Moisés, um dos principais acertos do governo ao longo de um ano de pandemia, foi não optar pelos hospitais de campanha. O governo estadual, ao comparar custos e valores, observou que a melhor medida seria investir nas unidades hospitalares do Estado.

Segundo ele, a iniciativa ajudou a equipar 56 hospitais catarinenses. “Avançamos em equipar essas unidades, permanentemente, com equipamentos que vão se tornar heranças”, justificou. O governador lembrou que há uma fila de cirurgias eletivas acumuladas por dois anos, e que esses investimentos nas unidades hospitalares ajudarão na redução da espera.

O governador foi duro na resposta ao ser questionado sobre uma afirmação do ex-governador Raimundo Colombo (PSD), que deixou cinco unidades hospitalares prontas para uso e que o atual governo não os colocou em funcionamento para reforço ao combate à Covid-19.

Carlos Moisés fez críticas ao ex-governador Raimundo Colombo – Foto: Leo Munhoz/ND
“Colombo criou alguns elefantes brancos. Criou hospitais que não tinham capacidade, inclusive, de se autogerir. Quando um governo pega um hospital, como o Tereza Ramos, em Lages, que tem espaços para serem ocupados, mas que havia levantamento de irregularidades nessa construção, de desvio , de entrega de obra inadequada, que estão sob auditoria, o que o governo faz? Suspende as obras”, respondeu ele, ao lembrar que o não uso dessas unidades não prejudicou o enfrentamento à Covid-19.

Segundo Carlos Moisés, o que falta hoje em Santa Catarina são recursos humanos. O governador revelou ser procurado, por diversos setores, oferecendo espaço físico para instalação de leitos de UTI. O último foi na quarta-feira (17) quando foi disponibilizado um espaço para 48 leitos de UTI no Ribeirão da Ilha, em Florianópolis.

O governador destacou que o país vive “um momento de guerra, que nós não podemos sentar e chorar. Temos que continuar a batalha”. Carlos Moisés enfatizou, mais uma vez a luta das equipes de saúde. “Esse é o exemplo que esse time da saúde está nos dando hoje. Estão na frente da batalha, é o momento mais duro desde o inicio da Covid-19 em 17 de março do ano passado”.“Quando você cria hospital vazio você precisa de gente para trabalhar. Espaço físico tem de sobra. Em todo lugar do Estado, hospitais privados. Temos vários, mas não tem gente para trabalhar”, justificou, ao emendar que os profissionais da área da saúde estão “enfrentando uma guerra”, e os apontou como maior patrimônio dos catarinenses.

DOENÇA DA SOCIEDADE

Mais uma vez, o governador voltou a afirmar que a Covid-19 é uma “doença da sociedade”. Carlos Moisés pediu outra vez que os catarinenses respeitem as medidas sanitárias e colocou a vacina com solução para frear a pandemia. “As pessoas estão querendo trabalhar, as crianças tem que ir pra escola. Nossa esperança está na vacina. É trazer a consciência das pessoas, precisamos nos cuidar. Penso que é o momento da sociedade. Estamos realmente no pico dessa crise”.

Um possível lockdown foi descartado pelo governador de SC – Foto: Leo Munhoz/ ND
Ele enfatizou que não há nenhuma estrutura física de segurança pública que coibirá as pessoas de saírem de casa. O governador falou sobre as punições contra quem descumpriu as novas medidas restritivas, adotadas em fevereiro e março deste ano. Durante a Operação Veraneio, que contou com 500 policiais, foram mais de 48 mil fiscalizações no Estado.

Moisés ponderou quanto questionado sobre algumas confusões envolvendo policiais militares e a sociedade. “Não justifica. Estamos trabalhando com a saúde das pessoas. É o cidadão contra o Estado, o Estado contra o cidadão. Penso que é um momento muito tênue, muito delicado, que tem que trazer a população para nosso lado. Não é ferro e fogo, não é um decreto que mantém as pessoas em casa.”

O governador reforçou que não considera a possibilidade de medidas restritivas mais duras. “Nós entendemos que não deve ser feito um lockdown”, salientou.

MUITOS ACERTOS NA PANDEMIA

Perguntado se considera que o governo cometeu erros durante o combate à pandemia, o governador disse que não se julga soberbo, mas observou que sua gestão obteve mais acertos do que eventuais erros. De acordo com ele, ainda é precoce afirmar o que foi feito de errado ou certo na pandemia. “Tudo que nós fazemos hoje, daqui a cinco anos podemos ter outras conclusões. Hoje ainda acho precoce dizermos que esse ou aquele movimento foi errado”.

Governador de SC durante entrevista com jornalistas do Grupo ND – Foto: Leo Munhoz/ ND
Para Carlos Moisés, todas as iniciativas adotadas pelo Governo Estadual foram embasadas na ciência, mas, mesmo assim geraram conflitos. “Esse debate se ideologizou, se transformou em uma ideologia de grupo. A gente tentou fazer com equilíbrio, cuidar das vidas em primeiro lugar não esquecendo da economia”.

Questionado se a compra dos 200 respiradores seria um erro do governo, o governador disse que “certamente alguém cometeu um erro, o importante é saber onde está o erro, apurar e responsabilizar”.

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