Nem tudo será igual a 2020

(* Adriana Vasconcelos…….)

Finalmente 2020 foi embora, mas o filme desses primeiros 10 dias de janeiro parece velho. Mal começou, o ano novo bateu a triste marca de 200 mil vítimas da covid-19, enquanto hospitais de vários Estados do país, mais uma vez, encontram-se à beira do caos.

E a vacina, tão aguardada e que poderia ajudar a frear tal crise sanitária, segue sendo o centro da disputa entre os principais atores políticos do país.

Ainda contagiada pelas expectativas criadas na chegada de 2021, obriguei-me a sair em busca de perspectivas positivas, especialmente para as mulheres, para esse “velho” ano novo.

Acabei achando várias, a despeito dos ares pesados que pairam cada hora sob um lugar diferente. Como o que levou um grupo de radicais a invadir a sede do Congresso dos EUA na última 4ª feira (6.jan.2021), numa tentativa fracassada de impedir a certificação da vitória de Joe Biden sobre o inconformado presidente Donald Trump.

NA POLÍTICA

Independentemente de Trump comparecer ou não à cerimônia de posse de Biden no próximo dia 20, o presidente eleito já sinalizou para o mundo que nem tudo será igual a 2020.

Ao escolher os principais integrantes de sua equipe, Biden garantiu, por exemplo, diversidade de gênero na ocupação dos cargos considerados ministeriais do futuro governo: serão 9 homens e 9 mulheres.

Já a vice de Biden, Kamala Harris desponta como uma das mulheres mais influentes de 2021. Antes mesmo de assumir a nova posição, ela garantiu a 3ª posição na lista da Forbes das “100 Mulheres Mais Poderosas do Mundo” de 2020. Ficou atrás apenas da chanceler alemã, Angela Merkel (1ª da lista pelo 10º ano consecutivo), e da chefe do Banco Central Europeu, Christine Lagarde (na 2ª colocação há 2 anos).

A única brasileira incluída nessa lista pelo 2º ano seguido, Andrea Marques de Almeida é diretora Executiva Financeira da Petrobras. Ficou com a 77ª posição. Após atuar por 25 anos na Vale do Rio Doce, a executiva assumiu em março de 2019 a missão de resgatar a confiança dos investidores abalada pela corrupção revelada pela operação Lava Jato.

NO ESPORTE

Já o estudo global TMT com previsões para 2021 aposta que a indústria do esporte deverá investir na criação de mais oportunidades para os esportes femininos, dada sua capacidade de gerar audiências de TV substanciais, agregar valor aos patrocinadores e atrair dezenas de milhares de fãs por evento, conforme se constatou ao longo da última década.

Levantamento recente junto a vários países indica que 66% do público se interessa por pelo menos um esporte feminino. Entre os fãs de esportes (dos quais 49% são mulheres), esse número sobe para 84%.

Em resumo, os esportes femininos estão prontos para conquistar uma maior monetização, conforme vinha cobrando nossa rainha do futebol Marta Silva, 6 vezes eleita pela Fifa melhor jogadora do mundo. Quem não se lembra de seu gesto apontando para chuteira sem patrocínio na última Copa do Mundo Feminina de 2019?

Aliás, aquela Copa Feminina concedeu um total de US$ 30 milhões em prêmios, sendo US$ 4 milhões para o time vencedor. A expectativa é de que no torneio de 2023 essa premiação dobre para US$ 60 milhões.

Embora esses valores ainda sejam pequenos em relação aos ganhos obtidos pelas equipes masculinas, o crescimento nas premiações das equipes femininas está ultrapassando o de seus pares masculinos.

Em esportes nos quais os jogos masculinos e femininos têm um apoio de marketing relativamente igual, como o tênis, eventos de Grand Slam já pagam prêmios em dinheiro equivalentes para mulheres e homens.

NA VIDA

O fato é que as dificuldades também podem se transformar em inspiração para a mudança da realidade em que vivemos. Foi o que aconteceu com Danielle Matos, 27 anos, que acabou indo parar no fim de 2020 na lista ‘Forbes Under 30’, que desde 2014 destaca os mais brilhantes empreendedores abaixo dos 30 anos.

Foi a partir de um post no Facebook, no qual pedia indicação para uma vaga que Danielle criou uma consultoria especializada em conexões entre a comunidade negra e o mercado de trabalho:  Indique uma Preta.

O projeto hoje já reúne 7.000 pessoas e ajuda empresas como o Twitter, Facebook e o Magazine Luiza a diminuir o gap de diversidade com programas para mudança de cultura e para processos de seleção.

Mudar leva tempo. Pode demorar uma década ou mesmo gerações. Mas a resiliência frente aos desafios uma hora acaba recompensada. Que nossas colheitas se multipliquem em 2021! 

(* Adriana Vasconcelos é jornalista e consultora em comunicação).

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