Jair Bolsonaro ignora vitória de Joe Biden nos Estados Unidos e Brasil pode ficar isolado
O presidente Jair Bolsonaro optou neste sábado (07) pelo silêncio após a vitória do democrata Joe Biden na disputa pela Casa Branca contra Donald Trump. Horas depois do resultado projetado pela mídia americana em razão do triunfo de Biden no Estado da Pensilvânia, nem o Palácio do Planalto nem o Ministério das Relações Exteriores haviam se pronunciado. A postura do governo brasileiro deixou o País isolado no plano internacional. Diversos outros chefes de Estado e de governo reconhecerem a vitória do ex-vice de Barack Obama.
De acordo com fontes do Planalto, Bolsonaro reagiu com “tranquilidade” ao resultado e reforçou que vai esperar um “quadro concreto” para se pronunciar. Ainda segundo integrantes do governo, o presidente considerava qualquer pronunciamento “uma afobação” e iria aguardar o término dos processos judiciais movidos por Trump – que não reconhece a derrota e contesta o resultado alegando, sem provas, fraudes no processo eleitoral.
O comportamento de Bolsonaro segue recomendações de sua assessoria para o cenário de vitória com margem apertada de votos e a contestação judicial por parte do aliado, o republicano Donald Trump. Esse era o conselho dado ao presidente nesta hipótese. Havia uma preocupação de evitar o que poderia ser considerado uma precipitação na comunicação virtual.
Conforme apurou o jornal o Estado de São Paulo, caso Bolsonaro decidisse romper o silêncio, a Presidência estaria pronta para fazer contato com o vencedor. Porém, não está descartado que Bolsonaro se manifeste apenas via Twitter. O chefe do Executivo também pode determinar que o contato seja feito pelo embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Nestor Forster.
Imprensa
Integrantes do Planalto argumentam que nenhum Estado encerrou oficialmente a apuração, e, portanto, a vitória do democrata está sendo declarada pela imprensa. O silêncio de Bolsonaro, no entanto, não estava atrelado a uma expectativa de reviravolta nas urnas, mas a uma “prudência” de que a imprensa, alvo frequente de Trump e de Bolsonaro, tenha errado. A militância bolsonarista seguia reproduzindo que há fraude no processo eleitoral, o que não tem respaldo das autoridades americanas.
O silêncio de Bolsonaro contrasta com o estilo do presidente, que costuma usar as redes sociais para rebater ou felicitar adversários. Foi o que ocorreu, por exemplo, em 30 de setembro, quando Biden fez críticas à preservação da Amazônia e ameaçou com sanções econômicas o governo brasileiro. Bolsonaro não demorou a responder ao democrata nas redes.
Ontem, embora não tenha reconhecido a vitória de Biden, o presidente brasileiro se manteve ativo nas redes sociais. Nos perfis oficiais, comentou o envio de militares em socorro ao apagão no Amapá. Fez, ainda, uma live surpresa nas redes. Durante a transmissão, que durou 30 minutos, além de ignorar a eleição americana, disse que não decidiu se vai tentar a reeleição em 2022, pediu a apoiadores para que não desperdicem o voto nas eleições para prefeito e vereador no País, marcadas para 15 de novembro, e lamentou que a América do Sul esteja sendo “pintada de vermelho”. Hoje, Luis Arce, apoiado pelo ex-presidente Evo Morales, toma posse como presidente da Bolívia.
“É um apelo que eu faço. Votem. O pior voto é aquele que é neutro, que é nulo, que é branco. O voto é muito importante. E vocês estão vendo as questões no mundo, como está a política no mundo”, disse Bolsonaro, que também pediu votos a candidatos alinhados a ele.
O Estadão entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores e o Palácio do Planalto sobre o resultado das eleições nos EUA, mas o governo não se pronunciou.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi uma das primeiras autoridades do Brasil a reconhecer o triunfo do democrata. “A vitória de Joe Biden restaura os valores da democracia verdadeiramente liberal, que preza pelos direitos humanos, individuais e das minorias”, publicou Maia, minutos após o anúncio pela imprensa dos Estados Unidos. (Com conteúdo do jornal O Estado de São Paulo).