Adversários de Bolsonaro terão rota árdua até 2022

(* Paulo Silva Pinto…………..)

Os 2 anos que nos separam da próxima eleição presidencial impõem dificuldades a Jair Bolsonaro. São várias as dúvidas. Ele chegará lá competitivo? As mortes e a as perdas econômicas da pandemia atrapalharão? Ou ajudarão a justificar resultados frustrantes para o eleitor?

Será 1 trajeto difícil. Mas não só para Bolsonaro. Para os adversários também há obstáculos grandes. Quiçá bem maiores do que os do atual ocupante do Planalto.

Pesquisa PoderData mostra Bolsonaro em situação confortável caso a eleição fosse hoje. Tem 38% das intenções de voto. São 24 pontos à frente do 2º colocado, Fernando Haddad, com 14%. E quase 4 vezes o percentual do 3º, seu ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, com  10%.

No 2º turno, Bolsonaro ganharia de lavada de Haddad: 42% a 32%. Com Moro empataria: 41% a 41%. Note-se este paradoxo: o candidato mais competitivo contra Bolsonaro no 2º turno é o que tenderia a não atingir essa etapa da disputa.

Moro pode crescer até 2022? Pode. Mas também corre o risco de se desidratar politicamente. Hoje é mais forte a memória de seu trabalho como juiz da Lava-Jato, sua atuação no ministério e, agradando quem não gosta do governo, sua briga com o presidente.

Terá que manter essas chamas em 2 anos e, de preferência, acender outras. O  desempenho de Moro é pífio se comparado ao de outro ex-colega de ministério: Luiz Henrique Mandetta, demitido da pasta da Saúde. Ele tem 5% das intenções, a metade do que é direcionado a Moro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

Mas Mandetta era uma figura desconhecida no cenário nacional antes de se tornar ministro. E teria permanecido pouco conhecido se não fosse a exposição que a pandemia lhe proporcionou. Portanto a inquietação que isso causou a Bolsonaro, como se percebe, não era o fútil ciúme que alguns observadores tentaram caracterizar.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem apenas 4% das intenções de voto, tecnicamente empatado com Mandetta, com Ciro Gomes (PDT), que tem 6%, e com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), com 3%.

Os adversários conservadores de Bolsonaro têm 19% das intenções. Os da esquerda, 23%. É muito pouco quando se leva em conta que o próprio Bolsonaro é de direita. Aparentemente só teria chances contra ele no 2º turno 1 adversário conservador que venha a  conquistar também votos de esquerda.

De fato, para conseguir os 41% contra Bolsonaro, Moro conta com 62% dos votos que seriam dados a Haddad no 1º turno. Será possível manter essa simpatia até 2022 com todos os prováveis ataques que sofrerá do PT?

Fala-se muito que em 2 anos tudo pode mudar. Sim. Mas muitas mudanças já precisariam ter sido iniciadas para se consumar. Em 2016 Bolsonaro percorria o Brasil para se tornar conhecido e tinha participação intensa nas redes sociais. A melhora do desempenho nas pesquisas veio muito depois. Mas os alicerces já estavam ali.

Flávio Dino está fazendo o que para se tornar conhecido e amado no país? Aparentemente, muito pouco. Ele é 1 novo possível  nome da esquerda na esquerda na urna eletrônica. Os nomes antigos, Haddad e Ciro, diminuíram. Tendem a perder ainda mais em 2 anos. A não ser que se mexam de forma decidida.

Contar com a inércia para a derrota de Bolsonaro é algo que mais provavelmente deve levar à vitória dele. A tendência de quem está na Planalto ser reeleito é muito grande. Todos conseguiram. Até Dilma Rousseff.

O grande perigo para Bolsonaro é o fim do auxílio emergencial, que aplaca a perda de renda com  a pandemia. A ajuda turbinou a popularidade. Mas é muito cara. A ideia é substituí-la pelo Renda Brasil, que pagará em torno de R$ 230 por família beneficiada. Será o dobro do Bolsa Família. Mas bem menos do que os R$ 600 do coronavoucher.

Essa transição terá de ser feita com muito cuidado para que o beneficiário (e eleitor) não se sinta traído. Esse risco é 1 trunfo da oposição. Mas contar apenas com a inabilidade do adversário seria 1 grande sinal de fraqueza.

(* Paulo Silva Pinto é analista político do Portal PODER360).

 

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