A grande dívida social
*Márcio Coimbra——————–
Apesar dos notórios esforços de vários governos, todos falharam em promover uma mudança de fundo e substancial nos problemas sociais brasileiros. Esta questão surge novamente de forma aguda durante a pandemia de coronavírus. Falta de saneamento e de sistema de saúde eficaz, além de educação em suas mais diversas variáveis são elementos que somente agravam o tamanho do problema.
Por certo, por mais que Bolsonaro dedicasse cada dia de sua presidência, durante quatro anos, na busca de resolver todos estes problemas, ainda não conseguiria. Houve avanços em governos passados, com o início de programas de assistência social de cunho liberal no governo Fernando Henrique até o estabelecimento de uma rede ampla, seguindo a mesma linha de maneira mais profunda nos governos petistas. Entretanto, ambos falharam em mudar o sistema em sua raiz, promovendo movimentação social eficaz e sustentável.
O avanço do poder aquisitivo nos governos petistas não pode se confundir com a reforma necessária no modelo social brasileiro que nunca foi realizado. Esta foi a grande falha do governo Lula. Seu projeto social não incluía avanços de mobilidade social real, que acabaram se perdendo com o desgaste da economia.
Fato é que o Brasil não se preparou para adversidade, quanto mais uma pandemia. Em nosso país 48% da população não possui coleta de esgoto e 35 milhões não tem acesso a água tratada. Por ano, 300 mil brasileiros são internados por diarreia e doenças relativas a falta de saneamento, dos quais, 50% são crianças. Se cruzarmos este dado com escolas, por exemplo, veremos que 59% das instituições de ensino fundamental não possuem rede de esgoto.
O Brasil gasta 6,7% do PIB com educação, valor superior à média de 5,5% dos países integrantes da OCDE. Entretanto, ocupamos somente a 67º posição no PISA, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos. O país possui 11,5 milhões de analfabetos e outros 11,2 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que não trabalham, nem estudam ou se qualificam. Além de ter menos pessoas chegando ao ensino médio, a evasão escolar nessa fase chega a assustadores 11,2%.
Diante desta realidade, o Brasil vive um enorme desafio em lidar com a pandemia do coronavírus. Em um país com brutais problemas econômicos, sem poupança, com renda baixa, pouca educação e saneamento precário que pressiona o sistema público de saúde, o problema se torna ainda maior. O isolamento social no Brasil tem atingido apenas 50%, enquanto em nossa vizinha Bolívia alcança 92%.
Esta política de contenção, adotada em todos os países do mundo, tem por objetivo evitar uma pressão no sistema de saúde que inviabilize o tratamento de novos doentes da pandemia, mas também aqueles casos que normalmente também fazem uso dos hospitais.
A crise gerada pelo coronavírus escancara nossas mazelas como nação. Falta de educação, pressão sanitária e econômica. Precisamos estar além de nossas diferenças políticas para nos prepararmos para o futuro. Sem união e ataque direto ao problema real, nosso país seguirá refém de suas misérias pelas próximas gerações. A dívida social segue cobrando sua fatura.
(* Márcio Coimbra/Congresso em Foco).