Será o coronavírus a nossa maior preocupação na saúde?
* Dra. Beatriz Quental Rodrigues——————
Nas últimas semanas temos observado uma grande preocupação no Brasil com o aparecimento de casos de infecção por um novo coronavírus que se originou na China, e que tem se espalhado por diversos países do mundo. Esta preocupação vem do fato de tratar-se de um vírus novo, com chances de infectar um grande número de pessoas, e cujas informações ainda são escassas.
Entretanto, é importante que o Brasil não perca o foco em outras doenças infecciosas, como dengue, febre amarela e sarampo, com elevado potencial de transmissão no nosso país e, muitas vezes, causando casos graves e até mortes.
No caso da dengue, segundo dados do Ministério da Saúde, em 2019, foram notificados 1.544.987 casos prováveis no país, com um aumento de 525% em relação a 2018. Desse total, 1.419 foram casos de dengue grave e 18.740 de dengue com sinais de alarme. Ocorreram 782 mortes, o que significa uma letalidade da forma mais grave da doença de 3,8%, mais elevada do que a descrita para o novo coronavírus até agora.
No caso da febre amarela, entre 1º de julho de 2017 a 30 de junho de 2018 foram confirmados 1.376 casos no país e 483 óbitos. Ou seja, uma taxa de letalidade de 35%.
Tanto o vírus da dengue quanto o da febre amarela são transmitidos pela picada do mosquito Aedes aegypti. Desta forma, é importante que o país adote estratégias para eliminação de focos do mosquito. Além disso, temos que nos preocupar com as estratégias de vacinação para febre amarela e sarampo, esta última doença transmitida por contato pessoa a pessoa.
Não queremos, com isso, dizer que a infecção pelo Coronavírus não é importante. Mas é importante atentar-nos para doenças que estão em circulação no Brasil, com estratégias de prevenção bem estabelecidas e que não podem ficar esquecidas pela ansiedade causada pelo aparecimento deste novo vírus.
(*Dra. Beatriz Quental Rodrigues é médica infectologista e coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Moriah).