Protesto de 15 de março e o vídeo compartilhado pelo presidente Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro entrou em contradição nesta 5ª feira (27.fev.2020) ao tentar explicar a origem do vídeo que compartilhou pelo WhatsApp com a convocação para protesto em 15 de março.
Segundo o presidente, a peça seria, na verdade, referente a 1 protesto em 15 de março de 2015, pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Em outro momento, Bolsonaro menciona que a mídia trata do atentado a faca que sofreu –em 2018.
As declarações foram feitas em transmissão ao vivo via Facebook. Bolsonaro mencionou a facada quando criticava a jornalista Vera Magalhães, do blog BR Político, do jornal O Estado de S. Paulo, que noticiou os disparos do vídeo.
“Esse vídeo ela não mostra. Vê se lá eu estou atacando o Parlamento brasileiro. Vê se lá eu estou atacando o Poder Judiciário, atacando quem quer que seja. Veja lá. Ela não divulga isso aí, ela printou o vídeo e não mostrou o vídeo. Até o vídeo que está no print que ela publicou não tem nada a ver. O vídeo fala 1 pouco da minha vida, da facada [em 2018], da campanha, nada mais além disso”, disse o presidente, ao lado da intérprete de libras Elisângela Castelo Branco.
Depois, afirmou: “É 1 vídeo em que eu peço comparecimento do pessoal no dia 15 de março de 2015 que, coincidentemente, também caiu no domingo. Então, em cima disso, você fez uma matéria que eu estaria disparando WhatsApp pedindo manifestação no dia 15 de março agora“.
Depois da declaração do presidente, a jornalista Vera Magalhães publicou a reprodução de uma conversa de WhatsApp com o compartilhando o vídeo, como também apresentou 1 vídeo no texto. Nas imagens, Bolsonaro aparece já com a faixa presidencial e ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e convoca para os atos de 15 de março de 2020 –que têm sido divulgados como contra o Congresso e Judiciário.
Durante a live, ao se dirigir à jornalista, Bolsonaro ainda usou termos como “eu não sou da sua laia” e “toma vergonha na cara”. O presidente ainda repetiu frase que usou para insultar a jornalista Patricia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. Disse que Vera Magalhães “queria dar o furo, 1 furo de reportagem”.
O chefe do Executivo ainda atribuiu os ataques que sofre de veículos de imprensa ao fato de “não dar dinheiro para imprensa”.
Assista à live completa do presidente (37min27segundos)
CRÍTICA AO CONGRESSO
Em seguida, o presidente fez críticas ao Congresso por não pautar os projetos de lei e medidas provisórias apresentados pelo governo. Citou a MP da carteirinha estudantil e a MP dos balanços dos jornais, que caducaram; e os projetos de lei relacionados à regulamentação do garimpo em terras indígenas e às mudanças no Código de Trânsito Brasileiro.
“Alguns dizem que eu não tenho articulação com o Congresso. Realmente eu não consigo aprovar umas coisas lá. E até gostaria que fosse botada em pauta muita coisa, mas não é botada em pauta. É o outro Poder que você tem que respeitar”, disse.
O presidente deixou a entender que pode não conseguir cumprir tudo o que
“Não vou desistir. Vou buscar fazer tudo aquilo que eu falei durante a campanha e 90% do que falei passa pelo Parlamento. Agora o Parlamento nosso tem seus problemas. Não vou criticar o Parlamento, assim como não vou criticar o Supremo Tribunal Federal. Respeito os Poderes. Agora, nós temos que insistir, persistir. O que eu gostaria do Parlamento é: ‘Bote em pauta’. Se a maioria falar que não, enterrou o projeto, encerrou-se o assunto. Agora caducar medida provisória, não botar em pauta, é triste isso aí”, completou.
Segundo Bolsonaro, apesar da cobrança, sua intenção é que o Congresso seja independente. “Não estou inventando nada e não estou ofendendo o Parlamento brasileiro, muito pelo contrário, eu quero o Parlamento cada vez mais independente e atuante. A Justiça também, independente e atuante. O Executivo também, nós somos independentes. Não existe qualquer crítica aos poderes. Agora, eu tenho que dar uma satisfação porque o povo cobra muito mais de mim”, disse.
RECOMENDAÇÃO DE VETO A JORNAIS
Ao falar da Medida Provisória que desobrigava empresas de capital aberto a publicarem seus balanços em jornais, Bolsonaro disse que vai recomendar a empresas que não anunciem em determinados jornais e revistas.
“Eu vou ter uma reunião na Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], em São Paulo, agora no comecinho do mês que vem, vou falar com o empresariado lá e esse assunto vai voltar à tona. O que eu vou falar para o empresariado lá? Entre outros assuntos, obviamente, que esses jornais, Folha de S.Paulo, essas revistas, revista Época, não anunciem lá, porque o jornal só mente o tempo todo, trabalha contra o governo. E se o governo der errado toda a economia do Brasil vai sofrer. Vocês não podem dar dinheiro para uma mídia que mente o tempo todo. Tem boas revistas no Brasil, tem bons jornais no Brasil? Tem. Vai em cima dessa imprensa que é isenta e fala a verdade”, disse.
LIMITE PARA ENTREVISTAS DE MINISTROS
Bolsonaro também afirmou que pedirá a ministros para que não deem entrevistas a empresas jornalísticas que considera hostis ao Planalto. Entre os veículos que disse considerar que os ministros poderão falar a CNN Brasil. Descartou a Globo.
“Eu, por exemplo, parei de dar entrevista aqui na frente. Por que? Deturpam tudo. Se bem que nós gravamos, divulgamos, isso é bom. Mas deturpam tudo, o tempo todo busca aí confusão. A mídia não faz –como regra, não são todas– uma matéria séria mostrando a verdade do que está acontecendo. Está pra ser inaugurada uma nova TV, a CNN Brasil. Pelo o que eu estou sabendo, vai ser uma rede de televisão diferente da Globo, pelo que eu estou sabendo. Torço para que isso seja real, para que a gente possa destinar aqui, fazer com que os nossos ministros vão dar entrevista para essa televisão”, disse.
“Qual a mensagem que a Globo dá? Acaba a entrevista, mas dá a entender o quê? Que aquele ministro é 1 bom ministro apesar do presidente. Deu coisa boa no governo, o ministro é responsável. Deu coisa errada, o presidente é responsável. [Tem que] Acabar com esse tipo de informação. Nós devemos deixar que os nossos ministros deem entrevista também para televisões que não têm 1 compromisso com a verdade, não têm 1 compromisso com o Brasil”, completou.
FIM DA GLO NO CEARÁ
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta 5ª feira (27.fev.2020) que a atuação das Forças Armadas ao Ceará, por meio de decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) iniciada em 20 de fevereiro, não será prorrogada e será encerrada nesta 6ª feira (28.fev.2020), como o previsto.
Segundo Bolsonaro, agora caberá ao governador do Ceará, Camilo Santana (PT), resolver a greve dos policiais militares do Estado. “Vence amanhã os 8 dias da GLO. A gente espera que o governador resolva esse problema da Polícia Militar no Ceará e bote 1 ponto final nessa questão porque GLO não é pra ficar eternamente atendendo 1 ou mais governadores. É uma questão emergencial”, afirmou.
“Apelo ao governador do Ceará, o senhor Camilo que entrou em contato conosco, pediu a GLO, foi atendido por 8 dias, que resolva o problema que é do seu Estado, isso é melhor para todo mundo. Negocie com a sua Polícia Militar e cheque a uma questão. Estamos torcendo para isto porque a GLO minha não é Ad aeternum”, disse em outro momento da transmissão.
Os policiais militares do Ceará já estão no 10º dia de motim. A Constituição Federal, no entanto, proíbe no, seu parágrafo 142, paralisações da categoria. A razão é o fato de que prestam serviço indispensável à sociedade e que a classe tem maior poder de coação que as demais. Até a última 3ª feira (25.fev.2020), 170 pessoas já haviam sido assassinadas no Estado no período de greve. (Poder360).