Passados 75 anos, horror de Auschwitz persite

Quando o Exército soviético chegou a Auschwitz, em 27 de janeiro de 1945, o mundo recebeu em choque a confirmação de que os nazistas mantinham um gigantesco campo de concentração na Polônia. Em operação desde 1940, Auschwitz fazia parte de uma rede de extermínio lançada como parte da “solução final” de Adolf Hitler, que abriu caminho para o genocídio de 6 milhões de judeus.

Na verdade, os Aliados já haviam recebido informações sobre o genocídio de judeus. Em dezembro de 1942, o governo da Polônia no exílio, em Londres, apresentou um documento intitulado O extermínio em massa de judeus na Polônia ocupada pela Alemanha, incluindo relatos detalhados de membros da resistência polonesa. Mas o texto despertou suspeitas.

“Os Aliados simplesmente não acreditaram em muitos desses relatórios”, disse o professor Norman Davies, historiador britânico da Universidade de Oxford. “Eles foram considerados exagerados ou como parte da propaganda de guerra polonesa.”

“Apesar dos pedidos de poloneses e judeus, de Londres e Washington, para bombardear as ferrovias que levavam a Auschwitz e a outros campos de extermínio, os comandantes aliados preferiam se concentrar em objetivos militares, não em questões civis”, contou Davies.

“Um dos alvos que o Exército britânico bombardeou foi uma fábrica de combustível sintético perto de Auschwitz, em 1943 e 1944”, disse o historiador. “Embora aviões de combate britânicos tenham sobrevoado o campo de extermínio, nenhuma ordem de bombardeio foi dada.”

O professor polonês Dariusz Stola, especialista em história dos judeus da Polônia, também relata o desinteresse do comando aliado. “Os chefes militares não gostavam que os civis interferissem em seus assuntos”, disse. “Para os comandantes aliados, bombardear Auschwitz ou suas linhas de suprimento parecia uma operação humanitária. E eles não queriam.”

Para alguns sobreviventes, o pesadelo dos campos de concentração ainda está vivo. “Os soldados alemães nem precisavam mais apontar o dedo para enviar alguém para a câmara de gás”, lembra Bronislawa Horowitz-Karakulska, de 88 anos, polonesa que ficou presa em Auschwitz aos 12 anos com sua mãe. “Quem parecia fraco, magro e ossudo era escolhido para morrer.” Ela sobreviveu porque sua mãe subornou os guardas alemães com um diamante que ela conseguiu levar para o campo. “Havia muitos soldados, cães latindo, agitação, medo. Auschwitz foi um horror.”

Encontro

Nesta segunda-feira, 27, muitos outros sobreviventes se reunirão em Auschwitz para lembrar a libertação do campo de extermínio, onde a Alemanha nazista matou mais de um milhão de pessoas, a maioria judeus. Chefes de Estado e de governo de 60 países e representantes de várias casas reais estarão no sul da Polônia para assistir às cerimônias, marcadas por disputas políticas e pela ausência de líderes das grandes potências.

Um dos principais ausentes será Israel, que realizou seu próprio fórum do Holocausto em Jerusalém, na semana passada, com a participação do vice-presidente dos EUA Mike Pence, do presidente francês, Emmanuel Macron, e do líder russo, Vladimir Putin. Nenhum deles estará nesta segunda em Auschwitz.

No mês passado, o presidente russo causou indignação ao afirmar que a Polônia agiu em conluio com Adolf Hitler e contribuiu para o início da 2.ª Guerra. Na verdade, o conflito começou quando a Alemanha e a União Soviética invadiram a Polônia, em setembro de 1939, sob a proteção secreta do Pacto Molotov-Ribbentrop – acordo de não agressão entre Berlim e Moscou.

Indignado, o presidente polonês, Andrzej Duda, acusou Putin de tentar reescrever a história e não compareceu aos eventos em Jerusalém, já que os israelenses não lhe deram a possibilidade de responder. Nesta segunda, ele fará um discurso em homenagem aos 6 milhões de judeus mortos no Holocausto. (Com conteúdo do jornal O Estado de São Paulo e de agências internacionais)

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