A Amazônia, o negócio e a Embrapa
* Murilo Flores
A recente crise gerada em torno da questão da Amazônia e seus reflexos sobre o negócio agrícola brasileiro demonstram a complexidade das relações internacionais, onde comércio internacional e novos comportamentos dentro das sociedades no mundo se misturam e ameaçam o setor que mais se firmou competitivamente nas últimas décadas.
Porém, o que se observa de forma promissora é a maturidade com que lideranças do negócio agrícola estão lidando com essa nova ordem mundial que começa a se impor sobre todos os países. Ao que parece, sob o comando dessas lideranças, o Brasil pode fazer, como se diz popularmente, do “limão uma limonada”. Isso significa dizer que estamos conceitualmente preparados para tratarmos da presença cada vez mais forte do nosso negócio agrícola no mercado mundial. Ampliando exportações, agregando valor a setores específicos e sabendo negociar a própria riqueza Amazônica como um ativo para o negócio agrícola brasileiro. Conhecer o comportamento dos consumidores internacionais e das restrições e barreiras que passam a ser a regra do jogo nos permite estabelecer a estratégia necessária para nossa competitividade. Percebe-se, dessa forma, maturidade entre nossas lideranças.
Nesse contexto, ainda que a Embrapa venha perdendo seu elo de ligação com o setor produtivo e com a própria sociedade nos últimos anos, basicamente porque as demandas se tornaram mais difusas do que no início de sua existência, e a base institucional se modificou (Lei de Patentes, Lei de Proteção de Cultivares e Lei da Inovação, Constituição de 1988), a empresa possui conhecimento suficiente para ajudar a colocar um pouco mais de clareza nesse momento tão vital para o futuro do negócio agrícola e do país. Ela pode ser muito útil e colaborativa nesse processo.
Para isso, a Embrapa precisa restabelecer a capacidade de diálogo com a sociedade para definir seu papel nesse novo cenário e como executá-lo. As premissas que orientaram a sua criação não são as mesmas de hoje, onde há uma robustez no setor privado e no setor tecnológico que não existia a época. Infelizmente, ainda se observam discussões muito pontuais e, também como se diz popularmente, falando “mais do mesmo”. Mas ainda é tempo de aproveitar-se de toda a capacidade instalada na Embrapa que tanto contribuiu para o país, como disse a Ministra Teresa Cristina, ”uma das três joias da coroa”. Os ajustes serão trabalhosos mas não difíceis e serão fundamentais para o momento do negócio agrícola. E isso vale para todo o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária – SNPA. O momento é de crise, mas de uma oportunidade tão histórica como foi a da criação de todo o sistema. Que nossas lideranças do negócio agrícola comandem esse processo com a maior competência, pois visão e maturidade estão apresentando de sobra.(*Murilo Flores – Pesquisador e Ex-Presidente da EMBRAPA).