Greve no Paraná chega ao 10º dia e entidades receberam oferta do Governo como uma “afronta”

A greve dos servidores estaduais chega ao 10° dia nesta quinta-feira (04) com a promessa de acirramento da mobilização dos trabalhadores. O motivo do descontentamento das categorias foi a proposta de reajuste de 0,5% em 2019 apresentada pelo governador Ratinho Junior (PSD). As entidades sindicais receberam a oferta como uma “afronta” do Palácio Iguaçu.

Com uma defasagem salarial de 17%, resultado de quatro anos de vencimentos congelados, os servidores estaduais pediam ao menos o reconhecimento da data-base. A recomposição da inflação dos últimos 12 meses foi calculada em 4,94% pelo índice IPCA.

Por meio do Fórum das Entidades Sindicais (FES), os servidores se reuniram na tarde desta quarta-feira (03) com a Casa Civil do Paraná para mostrar o descontentamento com a atual proposta.

“Colocamos nossa contraposição, tiramos nossas dúvidas [em relação à proposta] e concluímos que a situação é grave: não estão apenas parcelando a data-base deste ano, mas também congelando a reposição dos próximos quatro anos”, apontou a coordenadora-geral do FES Marlei Fernandes.

Aos servidores, o Governo do Paraná reforçou a incapacidade financeira de arcar com os custos da recomposição integral. Nesta quarta-feira (03), ao anunciar uma proposta de reajuste de 5% parcelado até 2022, o governador Ratinho Junior afirmou que isso é tudo que o estado é capaz de oferecer sem comprometer o caixa.

Adesão à greve aumenta

Praticamente todas as categorias do funcionalismo público manifestaram apoio à pauta conjunta levantada pelo Fórum de Entidades Sindicais, que coordena a mobilização estadual desde a deflagração da greve, no dia 25 de junho.

Com exceção das classes policiais, impedidas constitucionalmente de paralisar as atividades, servidores das áreas da educação, segurança, saúde, agricultura e abastecimento cruzam os braços pelo direito à data-base.

“Com a adesão do SindiSaúde (Sindicato dos Servidores da Saúde), da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e dos sete campi da Unespar (Universidade Estadual do Paraná), praticamente todos os servidores estão unidos nesta luta”, explicou Marlei Fernandes.

As entidades se juntam aos professores e trabalhadores em educação, policiais militares e civis, agentes penitenciários e servidores estaduais da agricultura, meio ambiente e afins.

Policiais sentiram-se traídos

As classes policiais, em geral, manifestaram um sentimento de traição. Eles estiveram reunidos com o governo nesta terça-feira (02), quando repassaram as principais demandas dos servidores ao Palácio Iguaçu.

“Foi uma surpresa. A proposta foi horrível. Ficamos até chateados como, de certa forma, fomos usados como anteparo em relação aos demais servidores para negociar com o governo. E o governador nos traz uma proposta dessas, que soa como um insulto”, afirmou o delegado Cláudio Marques Rolin e Silva, presidente do Sidepol (Sindicato dos Delegado de Polícia do Paraná).

As categorias esperavam que o governo apresentasse uma proposta de parcelamento que levasse em consideração a defasagem de 17%, acumulada desde 2016, e não apenas da inflação dos últimos 12 meses.

“A proposta que veio deve ser uma brincadeira de mau gosto. Ontem (terça, 02) fomos muito bem recebidos por ele [Ratinho Junior] e queremos deixar claro que não somos inimigos do governo. Dinheiro existe e nós já provamos isso. Esse tipo de proposta não é aceitável e parece mais uma brincadeira”, comentou o delegado Kamil Salmen, presidente do Sinclapol (Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná).

Militares se dizem surpreendidos

Os militares também se mostraram surpreendidos com a proposta de reajuste salarial de 0,5% em 2019 e mais 4,5% parcelados até 2022. A AVM (Associação da Vila Militar), entidade que representa a categoria, cobrou dos deputados que defendem a causa militar uma atuação focada

“Se o governo não quer pagar nem a data-base imagine se eles vão pagar outras coisas”, resumiu o coronel Washington Alves da Rosa, presidente da AVM.

O coronel ainda afirmou que outros projetos especulados — como a equiparação dos policiais militares aos civis — são “distrações” impostas às tropas, desviando a atenção ao assunto considerado prioritário pela Associação: a data-base.

Governo alega dificuldades financeiras

O governador Ratinho Junior convocou uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira (02) para anunciar a proposta que entregaria aos servidores públicos estaduais. A oferta foi apresentada nove dias depois do início da greve e não reconheceu a data-base dos trabalhadores. O Palácio Iguaçu quer parcelar um reajuste total de 5% em quatro anos:

  • 0,5% a partir de outubro de 2019
  • 1,5% a partir de março de 2020
  • 1,5% a partir de janeiro de 2021
  • 1,5% a partir de janeiro de 2022

Além do parcelamento, os dois últimos reajustes (2021 e 2022) estão condicionados a um crescimento mínimo da receita líquida de 6,5% e 7%, respectivamente.

“Essa é a proposta que o estado pode fazer para garantir o pagamento e os reajustes. Fora disto nós vamos colocar em risco a saúde financeira do estado, algo que eu não vou deixar acontecer”, enfatizou Ratinho Junior.

Junto à proposta de reajuste parcelado, o governador anunciou que pretende enviar aos deputados um projeto para acabar com as licenças-prêmio dos servidores públicos estatutários:

“É importante registrar que as licenças-prêmio precisam ser rediscutidas. Nós vamos garantir àqueles que já tem o direito adquirido, mas precisamos discutir isso na Assembleia Legislativa (Alep) para o futuro. Isso também é necessário para haja os reajustes neste pacote que estamos fazendo”, detalhou.

O Executivo pedirá à Alep que o projeto de reajuste tramite em regime de urgência. O objetivo aprovar as medidas até o dia 17 de julho, antes do recesso do Legislativo. (Paraná/Total).

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