Moro minimiza mensagens e Dalton diz que provas contra o ex-presidente são robustas
O ministro Sergio Moro (Justiça) afirmou nesta segunda (10) em Manaus que não viu “nada de mais” nas mensagens que ele trocou com o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba.
“Havia uma invasão criminosa de celulares de procuradores, pra mim isso é um fato bastante grave ter havido essa invasão e essa divulgação. E, quanto ao conteúdo, no que diz respeito a minha pessoa, eu não vi nada de mais.”
O conteúdo foi divulgado neste domingo (9) pelo site Intercept Brasil e mostra que os dois trocavam colaborações quando integravam a força-tarefa da Operação Lava Jato.
Moro, que hoje é ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PSL), foi o juiz responsável pela operação em Curitiba. Ele deixou a função ao aceitar o convite do presidente, em novembro, após a eleição.
Questionado se orientou o Ministério Público na Lava Jato, Moro disse: “Não tem nenhuma orientação ali. Aquelas, eu nem posso dizer que são autênticas, porque são coisas que aconteceram, se aconteceram, anos atrás. Não tenho mais essas mensagens”.
Já Deltan divulgou um vídeo em que defendeu o trabalho da força-tarefa, afirmando ser teoria da conspiração a ideia de que a investigação foi direcionada. Ele disse ainda que a as provas que incriminavam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex de Guarujá (SP) são robustas.
“Tentar imaginar que a Lava Jato é partidária é uma teoria da conspiração que não tem base nenhuma. Vejam que 15 procuradores atuam na Lava Jato só em primeira instância em Curitiba. […] Grande parte dessa equipe foi formada antes de aparecer o primeiro político”, justificou Deltan.
Mais cedo, em visita ao Amazonas para evento sobre a questão carcerária, Moro foi questionado sobre trecho vazado das mensagens em que ele (à época juiz) reclama do longo tempo sem operações.
Segundo ele, “basta ler” para “verificar que o fato grave é a invasão criminosa do celular dos procuradores”.
“O juiz conversa com procuradores, o juiz conversa com advogados, o juiz conversa com policiais, isso é normal”, disse o ministro, que afirmou ver “sensacionalismo em cima dessas supostas mensagens”.
O procurador Deltan, em seu vídeo, disse que a Lava Jato sofreu “um ataque gravíssimo” com a invasão de celulares. “Nosso receio é que a atividade criminosa avance agora para falsear e deturpar fatos.”
Ele afirmou não reconhecer a “fidedignidade” das mensagens que foram espalhadas.
Respondendo a alguns trechos da reportagem, como o que mostra a possível dúvida sobre a consistência da denúncia contra Lula, ele afirmou que a revisão e a análise de detalhes da peça ocorreram justamente para que o Ministério Público Federal pudesse oferecer uma acusação robusta.
“As provas do caso embasaram a acusação porque eram robustas, e tanto eram robustas que nove julgadores de três instâncias diferentes concordaram […] e condenaram o ex-presidente Lula.”
Citando legendas que tiveram políticos alvos da operação, Deltan afirmou que a força-tarefa é contra a corrupção, independentemente de partido. Ainda disse que o grupo deve “aperfeiçoar” as atividades com críticas recebidas.
Disse também que “é natural” que procuradores e juízes conversem, mesmo sem a presença da defesa, mas que isso não quebrou a imparcialidade da Lava Jato.
O procurador ressaltou ainda que o número de absolvidos judicialmente e a frequência de vezes que o MPF recorreu de decisões comprovam que a instituição “não se submeteu ao entendimento da Justiça” e que o juiz “não acolheu o que o Ministério Público queria”. Segundo ele, foram 54 acusados absolvidos das acusações da força-tarefa. (FOLHAPRESS).