Cida Borghetti faz balanço de seu governo e deseja sucesso ao seu sucessor!
Cida Borghetti (PP) encerra, no próximo dia 1º, quando transmite o cargo a Ratinho Junior (PSD), um mandato de pouco mais de oito meses como governadora do Paraná. Assumindo o cargo após a renúncia de Beto Richa (PSDB), que se desincompatibilizou, em abril, para poder disputar as eleições deste ano, a governadora enfrentou crises e sofreu com os casos de corrupção que atingiram seu antecessor, mas disse que conseguiu, neste curto período, impor seu jeito de governar. Candidata à reeleição, acabou derrotada por Ratinho Junior já no primeiro turno, mas, agora, diz que torcerá para que seu adversário faça um bom governo.
Em entrevista ao Paraná Portal, a governadora fez uma balanço de sua gestão, avaliou o processo eleitoral e deu sua opinião sobre o processo de transição, o futuro do estado e seu futuro político. Confira.
CIDA BORGHETTI – Nestes poucos meses consegui impor meu ritmo de gestão, de mulher que cuida e se preocupa com o bem-estar do próximo. Nos pautamos por metas, trabalhando de domingo a domingo muitas vezes até tarde da noite. Adotamos o diálogo franco com todos os setores da sociedade e substituímos o talvez pelo sim e pelo não. A tudo aquilo que o Estado pode e deve fazer, nós dissemos sim. Ao que o Estado não pode e não deve fazer, dissemos não. Isso se chama resolutividade. Uma gestão que resolve, não adia. Nestes quase nove meses liberamos R$ 8,7 bilhões para investimentos nas mais diversas áreas, e atendemos a todos os 399 municípios do Paraná, sem distinção partidária. Foi uma gestão de realizações.
Qual é o legado que teu governo deixa? O que as pessoas vão lembrar, no futuro, que foi a Cida que fez?
CIDA BORGHETTI – Me orgulha ter sido a primeira mulher a governar o Paraná e ter representado o universo feminino neste posto tão importante. O Estado nunca está pronto, o Estado está em constante construção. Os governos que se sucedem vão dando as contribuições possíveis, cada um ao seu tempo. Acho que todos os avanços que implementamos são importantes legados que ficam para os paranaenses. A Divisão de Combate à Corrupção com total autonomia e estruturas no interior, o condomínio do idoso da Cohapar, o Governo Digital e seus mais de 3 mil serviços para facilitar a vida do cidadão, a transformação de carros administrativos em Patrulhas Maria da Penha, a mudança de postura em relação ao pedágio. Também temos grandes obras acontecendo ou que já têm recursos assegurados para a realização. Poderia falar do asfalto que estamos levando para atender quem mora em Mato Rico ou Coronel Domingos Soares, duas cidades que ainda só têm acesso por estrada de terra. Assim como poderia falar sobre o reajuste que demos aos salários das merendeiras das escolas, ou do apoio financeiro para melhorar o atendimento de 300 hospitais. Mas posso resumir tudo num conceito que marca o nosso governo: trabalhar com eficiência para cuidar das pessoas.
A senhora tentou a reeleição, mas acabou derrotada no primeiro turno. Qual a avaliação do resultado da eleição?
CIDA BORGHETTI – Minha candidatura era um caminho natural. Mesmo que não estivesse na condição de governadora, disputaria a eleição. Fizemos uma campanha bonita, limpa e propositiva. Aprendi bastante e recebi carinho por onde passei. Os paranaenses preferiram um outro caminho e temos que respeitar a decisão das urnas.
Qual seu projeto político a partir de agora?
CIDA BORGHETTI – Meus pais me ensinaram a gostar da política desde muito nova. Meu pai, Ivo Borghetti, era um getulista de carteirinha e me dizia sempre: “Se você está descontente com algo, não reclame, vá e faça melhor”. Seguirei neste caminho que iniciei como militante na juventude. Fui deputada estadual recordista na aprovação de leis. Como deputada federal, aprovei o marco legal da primeira infância, a lei mais avançada na proteção às crianças. Sou ficha limpa, nunca decepcionei meus pais e não decepcionarei meus eleitores. Estarei sempre à disposição do Estado do Paraná. Eu gosto de cuidar das pessoas.
Depois que a senhora assumiu, estouraram algumas operações policiais no Estado que tiveram como alvo seu antecessor, de quem a senhora era vice-governadora. Na vice-governadoria, a senhora não teve conhecimento dos escândalos como os revelados pela Publicano, Quadro Negro, Operação Piloto, Rádio Patrulha, ou mesmo a Lava Jato? Depois que tomou posse e os casos vieram à toda, que medidas foram tomadas por seu governo?
CIDA BORGHETTI – Afastei todas as pessoas suspeitas de desvios de conduta. Criei a Divisão de Combate à Corrupção, com autonomia para investigar qualquer pessoa do governo, inclusive eu. Varri a corrupção para fora do governo. Na questão dos pedágios, saímos do polo passivo das investigações para o polo ativo, passando a colaborar com as operações vinculadas à Lava Jato.
Especificamente nas questões relacionadas ao pedágio, a senhora comunicou às concessionárias uma decisão de não prorrogar os contratos, que só vencem em 2021 e entrou na Justiça pedindo a redução das tarifas, o que não aconteceu. Na prática, essas medidas tiveram algum efeito?
CIDA BORGHETTI – Tomei atitudes que a população paranaense espera de um governante. A comunicação da não renovação foi com o objetivo de assegurar a finalização dos contratos com transparência. Ao mesmo tempo iniciamos as negociações com o Governo Federal para uma nova delegação das rodovias federais e também realizamos audiências públicas em todas as regiões para discutir o novo modelo de concessão. Hoje, a questão do pedágio está mais transparente e o governo se tornou um aliado dos usuários e não das concessionárias.
Os escândalos envolvendo o ex-governador, que, inclusive, fazia parte de sua chapa, como candidato ao Senado, prejudicaram sua candidatura?
CIDA BORGHETTI – O eleitor foi levado a acreditar que minha candidatura representava uma simples continuidade, o que não é verdade. Neste sentido, houve um prejuízo eleitoral. Devo lembrar que as principais lideranças do PSDB do Paraná fizeram campanha para o meu adversário. Com a participação do presidente da Assembleia, Ademar Traiano, na convenção do Ratinho Jr, nosso partido buscou novas alianças, porém os outros partidos que formaram a nossa coligação decidiram pela manutenção da aliança com o partido do ex-governador. Em relação às graves denúncias reveladas contra o grupo político do ex-governador tomei atitudes firmes. Demiti todos os acusados. Houve um afastamento natural porque não concordo com nenhuma das situações que se apresentaram.
Pouco mais de um mês depois de sua posse a senhora se viu em uma crise que atingiu todo o país, com a greve dos caminhoneiros. A senhora foi para a beira da estrada negociar com o movimento e o Paraná foi um dos primeiros estados e restabelecer a normalidade. Como foi essa negociação? O que a senhora pode oferecer a eles, uma vez que as principais reivindicações dependiam de decisão federal, como o subsídio ao diesel?
CIDA BORGHETTI – As crises precisam ser resolvidas pelo diálogo e o nosso governo foi assim, uma gestão de portas abertas a todos os setores da sociedade, com conversa franca e direta. Nos propusemos a resolver os problemas que apareceram, dizendo sim e não, sem enrolação. Entendemos a reivindicação dos caminhoneiros e, com muita conversa, conseguimos convencê-los da necessidade de liberar as estradas do Paraná para que a população não fosse tão prejudicada. Montamos um gabinete de crise, comandado pela Defesa Civil, que permitiu o trânsito de produtos de primeira necessidade. Fomos o primeiro Estado a liberar todas as estrada sem a necessidade do uso de força. Neste ponto, até agradeço às lideranças dos caminheiros pela compreensão das nossas urgências.
Outra crise enfrentada pelo seu governo foi com os servidores públicos. Na tentativa de descongelar a data-base do funcionalismo, foi apresentada uma proposta de reajuste de 1%, que foi refutada pela categoria e “tratorada” pela Assembleia. Qual a avaliação deste episódio?
CIDA BORGHETTI – Propusemos aquilo que era possível naquele momento, numa clara demonstração da nossa vontade de destravar o debate com o funcionalismo. Reforçamos isso ao retirar da LDO a trava que impediria inclusive qualquer reajuste em 2019. Infelizmente houve um movimento político e até eleitoreiro na época, com a proposição de reajuste de 2,67% aos servidores do Executivo, contra nossa proposta de 1%, que era o possível respeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal e a limitação imposta pelo acordo com a União feito pela renegociação das dívidas. Agi com transparência e responsabilidade.
O ano terminou com a Assembleia votando dois projetos importantes: mais mudanças na Paraná Previdência e uma nova regularização das PPPs. Por que enviá-los no final do ano? Ambos foram pedidos do governador eleito durante a transição?
CIDA BORGHETTI – O projeto da Paraná Previdência foi encaminhado ao Legislativo em julho, mas só tramitou na casa no final do ano. É uma proposta construída entre os técnicos da Fazenda e da PRPrevidência que assegura um superávit no fundo de R$ 165 milhões ao final de 75 anos. O projeto das PPPs atende uma reivindicação do futuro governo, todo o texto do anteprojeto foi construído pela equipe de transição do governador eleito.
Como se deu a transição? O que a senhora espera do governo Ratinho Junior? Que postura adotará, de fora, em relação ao governo?
CIDA BORGHETTI – Tenho uma boa relação com o governador eleitor e nosso propósito sempre foi fazer uma transição harmoniosa. Vamos deixar o caixa com R$ 5 bilhões de salto, todos os compromissos assumidos possuem recursos alocados. Além disso, o governador eleito terá a sua disposição o Orçamento de 2019 integralmente livre para as suas decisões. A orientação que dei para a minha equipe de trabalho é que nada fique sem resposta, porque tudo o que fizemos está absolutamente correto. Temos uma relação de amizade e de respeito de longa data. Fomos deputados estaduais na mesma legislatura e também nos elegemos para a Câmara dos Deputados juntos. A partir do dia 1 de janeiro estarei na torcida para ele faça uma gestão que atenda os anseios dos paranaenses. (Roger Pereira/Portal do Paraná).