“Bateu na trave” a quase adesão do tucano Beto Richa no partido de Bolsonaro
Não prosperou a engenhosa articulação feita nos bastidores da política Curitiba, há mais de 15 dias, de levar o ex-governador Beto Richa (PSDB) para ser o candidato de Bolsonaro à prefeitura de Curitiba. Foram horas e horas de reuniões, apertos de mãos, acordos firmados, jantares, fotos e vídeos feitos e até a ficha de filiação devidamente assinada, mas na tarde desta quinta-feira (14) chegaram ao fim as tratativas.
Dois fatores foram preponderantes para o desacerto: o primeiro, e mais importante, foi que Beto não conseguiu a anuência do comando da federação PSDB/Cidadania para sair pela porta da frente — ou seja, uma garantia de que não perderia o mandato de deputado federal. O outro motivo foi uma conversa por telefone, nesta quinta-feira, entre Paulo Martins e o Capitão Bolsonaro.
Entra pré-candidato — Após alguns afagos de parte a parte, Paulo Martins teria garantido ao ex-presidente que será pré-candidato à prefeitura de Curitiba. Embora, tenha sido nomeado recentemente assessor especial do governador Ratinho Junior, que, por sua vez, não vai medir esforços para eleger Eduardo Pimentel (PSD) para o Palácio 29 de Março. Este desconforto, de abrigar um adversário no gabinete do 3° andar do Palácio Iguaçu, será tema de conversa entre Paulo Martins e Ratinho, tão logo o governador retorne dos compromissos no interior do Estado.
A expressiva votação ao Senado em 2022, fazia de Paulo Martins um pré-candidato natural do partido para as eleições de 2024, mas ele estava na “moita” porque aguardava um desfecho do julgamento da ação contra o senador Sergio Moro na Justiça Eleitoral que pode até resultar em cassação de mandato. Paulo Martins disputaria esta eleição. Mas como o caso Moro se arrasta na Justiça, com entendidos do meio jurídico acreditando numa conclusão do caso só no segundo semestre deste ano, Paulo Martins resolveu agora, diante da “ameaça Beto Richa”, botar o time em campo.
Ao Blog Politicamente , Paulo Martins disse que vai organizar a pré-candidatura e anunciou que vai retomar a presidência do PL de Curitiba — atendendo ao pedido da executiva nacional. Ontem, após o burburinho da negociação de Beto Richa no PL, Paulo Martins chegou a renunciar o cargo no diretório municipal.
Sai pré-candidato — A pré-candidatura posta de Paulo Martins, com o famoso “Talquei” do Capitão, implode os sonhos do deputado estadual bolsonarista Ricardo Arruda de disputar o pleito pelo PL. Aliás, depois do vídeo publicado nas redes sociais ontem (13), o nome de Arruda teria sido vetado para representar o PL na eleição. Não haverá rusgas entre Arruda e Paulo Martins. Os dois apertaram as mãos na tarde desta quinta numa reunião no escritório do advogado Jeffrey Chiquini. Um irá apoiar o outro. Este foi o compromisso.
Beto Richa sai de todo este episódio com dois sentimentos. Orgulhoso pela acolhida do PL e frustrado por não ter a chance de disputar a eleição de Curitiba de forma competitiva, de igual para igual, num partido com polpudo fundo eleitoral e alguns bons minutos no rádio e na TV. Beto, mais que voltar a sentar na cadeira de prefeito, queria utilizar a eleição para conversar com o eleitor curitibano sobre os últimos anos de sua vida — marcados por prisões e processos judiciais decorrentes de caso de corrupção. Munido de uma decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, em que anula toda a investigações e as acções judiciais, o ainda tucano buscava a redenção e o prestígio junto ao eleitorado que já o idolatrou, quando foi reeleito com quase 80% dos votos.
Fala Beto Richa — Também por telefone, o ex-governador comentou a negociação com o PL, “Não prosperou a negociação porque não teve a anuência da Federação do PSDB/Cidadania. Sigo no PSDB, com muito orgulho, e serei pré-candidato à prefeitura de Curitiba”, declarou.
O deputado federal Filipe Barros, um dos condutores de toda esta negociação, afirmou ao Blog Politicamente que a missão dada por Bolsonaro era construir uma pré-candidatura forte em todas as grandes cidades do Paraná e que em Curitiba a negociação avançou com Beto Richa, mas o impedimento da federação fez com que as conversas fossem encerradas.
“O Paulo Martins se colocou como pré-candidato do nosso partido e nós vamos montar palanques fortes em todas as grandes cidades do Paraná com vistas para as eleições de outubro, mas principalmente para o presidente Bolsonaro em 2026”, respondeu Barros citando uma eventual reversão da inelegibilidade na Justiça Eleitoral. “Este é o posicionamento do PL no Paraná porque não podemos ficar à reboque dos outros partidos que não sabemos com quem estarão em 2026”, completou.
Resumo da ópera — O fracasso na negociação envolvendo Beto Richa e o PL acalma os ânimos de muita gente que já começava a pensar em redesenhar a estratégia para a campanha eleitoral. Muitos armários com esqueletos estavam sendo reabertos de parte a parte. No PSDB desidratado, guarda-se as armas e retomam a rotina de sorrisos e tapinha nas costas. O que não se pode negar é que a conversa entre PL e Richa provocou burburinhos pelo Centro Cívico. Uns se mostraram mais preocupados, outros não deixaram escorrer nem uma gota de suor — apesar das altas temperaturas registradas em Curitiba.
(BLOG POLITICAMENTE).