Saiba porque as temperaturas, no final do inverno, estão estão sendo tão altas!

Esta semana, a última do inverno, registra temperaturas acima dos 40ºC em várias partes do Brasil. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta de perigo para a chegada de intensa onda de calor, que deve se estender por boa parte do País ao longo da semana. A situação deve se intensificar ainda mais a partir de sexta-feira (22).

O aviso meteorológico especial de nível laranja (perigo) é emitido quando as temperaturas excedem em pelo menos 5 Cº a média histórica para o período em três dias consecutivos ou mais.

Ao longo da semana, as temperaturas máximas devem passar dos 40ºC em áreas do Centro-Oeste e do Norte, além de regiões do interior de São Paulo. Na capital paulista, são esperadas temperaturas máximas acima dos 35ºC a partir de sexta.

Para o meteorologista do Inmet Heráclio Alves, a virada do tempo não chega a ser anormal para esta época do ano. “Estamos no fim do inverno, que é uma estação mais seca, num momento em que as temperaturas começam a subir, e passamos a ter essas massas de ar quente e seco.”

A onda de calor ocorre quando o tempo está predominantemente seco, com aumento da insolação, e é favorecida pela subsidência atmosférica – quando a pressão atmosférica entre os níveis médios da atmosfera e a superfície da Terra aumenta, elevando a temperatura das massas de ar. A configuração de um bloqueio atmosférico relacionado a este padrão de subsidência garante a persistência da onda de calor por vários dias, impedindo a entrada de frentes mais frias.

Por isso, dias ensolarados e temperaturas acima do normal para esta época do ano devem ser registrados na maior parte do País. O calor será intenso e persistente em Santa Catarina e Paraná, grande parte da região sudeste e centro-oeste, interior do Nordeste, Rondônia e Tocantins. Áreas do Centro-Sul do Pará e do Centro-Leste do Amazonas também serão afetadas.

O ápice desse período de calor deve ocorrer a partir de sábado (23), quando começa oficialmente a primavera. Segundo a empresa Climatempo, novos recordes de calor podem ser estabelecidos sobretudo em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.

Segundo a Metsul, a maior temperatura registrada oficialmente até hoje no Brasil foi de 44,8°C em Nova Maringá (MT), em 4 e 5 de novembro de 2020, superando o recorde também oficial de Bom Jesus (PI), de 2005, de 44,7°C.

O dia mais quente já registrado no município de São Paulo em setembro, desde o começo dos registros de dados em 1943 na estação do Mirante de Santana, foi de 37,1ºC, em 30 de setembro de 2020.

A Metsul explica que, em algumas cidades como Goiânia e Cuiabá, as médias de temperatura são mais altas entre o inverno e a primavera do que no verão. Isso ocorre porque nesta última estação há chuvas, o que evita temperaturas tão extremas.

O El Niño, fenômeno de aquecimento das águas do Oceano Pacífico, tende a elevar as temperaturas médias em todo o planeta. Seu ápice só será alcançado em dezembro. O fenômeno também foi responsável pela intensidade da passagem om ciclone, seguido de temporais, no Rio Grande do Sul nos primeiros dias do mês. A maior tragédia climática do Estado terminou com 48 mortos.

“Infelizmente, vamos ter mais situações como as deste mês, com episódios de chuva mais frequentes e mais intensos. Esse é o ‘padrão El Niño’ para o Sul”, diz Marcelo Seluchi, diretor-geral do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

“Não temos como relacionar cada onda de calor e cada evento extremo às mudanças climáticas”, afirma a climatologista Karina Bruno Lima, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Mas já sabemos que, de forma sistêmica, os eventos extremos estão cada vez mais intensos e frequentes, sobretudo os eventos extremos de calor.”

Karina lembrou que este ano está sendo especialmente quente. O verão no hemisfério norte, que termina esta semana, foi marcado por várias ondas de calor, registros de temperaturas recordes e séries de incêndios, como os que ocorreram na Grécia e no Havaí (EUA).

Desde a Revolução Industrial, em meados do século 19, a temperatura média da Terra aumentou 1,1ºC por conta das atividades humanas, sobretudo as relacionadas á queima de combustíveis fósseis. Previsões do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), indicam que o ideal seria que conseguíssemos limitar esse aumento a 1,5ºC – o que, para muitos especialistas, já seria impossível.

“Esse ano é uma boa amostra do nosso futuro”, afirma Karina Bruno Lima. “Tem tudo para ser o ano mais quente do registro histórico. E 2024 deve ser ainda pior.”

(HOJEPR).

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