Com Bolsonaro ou Lula, Saúde ignora pessoas com deficiências

A ausência de critérios bem estabelecidos e detalhados, de nomear quem tem de ser imunizado contra a covid-19, impede a vacinação das pessoas com deficiência, como ocorreu no auge da pandemia e se repete agora, na nova ação do Ministério da Saúde, dessa sob o comando do governo Lula.

Há um agravante. Lá em 2021, na primeira rodada de vacinas contra o coronavírus, quando Eduardo Pazuello comandava de forma desastrosa o Ministério da Saúde, pessoas com deficiência foram ignoradas. Somente após uma forte reação da sociedade civil, das instituições, da ação do Congresso Nacional e da aprovação da Lei n° 14.124/2021, que estabelece prioridade à pessoa com deficiência nessas campanhas, essa população passou a fazer parte, ainda assim, com diversos problemas.

E agora, na campanha que começa em 27 de fevereiro, com a bivalente da Pfizer, também contra subvariantes da Ômicron, a população com deficiência sequer foi mencionada no anúncio oficial, uma desobediência à lei federal.

A fase 1 contempla pessoas acima de 70 anos, imunocomprometidos, comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas. Na sequência (fase 2), serão pessoas entre 60 e 69 anos. A seguir (fase 3) gestantes e puérperas. E na fase 4, profissionais de saúde.

O Ministério da Saúde afirma que “neste primeiro momento foram considerados os grupos de maior vulnerabilidade, com riscos para complicações, óbitos e maior exposição ao aumento de casos de covid-19”.

Pessoas com síndrome de Down, com paralisia cerebral, autistas, pessoas com diferentes condições neurológicas estão entre as mais vulneráveis ao coronavírus. Em 2020, publiquei mais de 100 reportagens sobre esses riscos. E todos os especialistas que entrevistei reafirmaram os perigos e a necessidade urgente de vacinar esse grupo.

É inaceitável que, mesmo com uma lei federal que determina a prioridade à pessoa com deficiência na vacinação, o Ministério da Saúde, monte um esquema de imunização que ignora completamente essa população, principalmente depois de o País inteiro vivenciar a negligência, a sabotagem do governo Bolsonaro à batalha contra a covid-19.

O governo Lula, que se apresenta como democrata e progressista, que tem um Ministério da Mulher, um Ministério da Igualdade Racial, um Ministério dos Povos Indígenas, mas não tem um Ministério dos Direitos da Pessoa com Deficiência, tem somente uma secretaria nacional, que foi reduzida, mostra a mesma negligência, o mesmo capacitismo.

Não é mais possível que as pessoas com deficiência sejam vistas, consideradas e tratadas como o etcetera da diversidade, a mesma diversidade que “subiu a rampa” na cerimônia de posse de Lula, mas ficou sozinha lá.

(JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO).

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