Votos de Amin e de Ivete contra PEC indicam que Lula terá oposição da bancada de Santa Catarina no Senado

O Senado aprovou na noite de quarta-feira, com folga, a Proposta de Emenda Constitucional (Pec) que fura o Teto de Gastos em R$ 145 bilhões pelos próximos dois anos para garantir que o presidente Lula (Pt) cumpra a promessa de campanha de manter o pagamento de R$ 600 mensais para os beneficiários do Auxílio Brasil, que voltará a se chamar Bolsa Família, acrescidos de R$ 150 para cada criança menor de seis anos. Foram 64 votos a 13, indicando que o futuro presidente tem margem para construir uma base confortável no Senado.

De Santa Catarina, no entanto, os indicativos não são bons para o presidente eleito. Apenas o senador Dário Berger (Psb) votou a favor da Pec. Ele foi o candidato a senador apoiado por Lula nas eleições deste ano, quando chegou em terceiro lugar na tentativa de se reeleger, e aguarda alguma posição no novo governo para continuar no jogo. Era um voto previsível – até porque mesmo não alinhado à base do presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal), também votou a favor de outros estouros do Teto de Gastos, como em julho, quando o governo federal conseguiu aprovar a criação de um estado de emergência às vésperas das eleições para viabilizar o Auxílio Brasil de R$ 600 e bancar benefícios a caminhoneiros e taxistas – uma conta de R$ 41 bilhões.

O outro voto mais ou menos previsível é era o de Esperidião Amin (Progressistas), contra a Pec de Lula. O senador do Progressistas faz parte da base de Bolsonaro e foi candidato a governador tentando se apresentar como um bolsonarista mais experiente do que o eleito Jorginho Mello (Partido Liberal). Não funcionou, o eleitor catarinense preferiu endossar o número 22 de cabo a rabo. Ao seu estilo, Amin votou a favor das emendas ao projeto que reduziam o valor do estouro do teto para R$ 100 bilhões e estipulavam um prazo de um ano para vigência. Nesses temas polarizantes, Amin costuma se alinhar a um posicionamento alternativo antes de seguir o voto bolsonarista.

O que não era previsível, por inédito, era o voto da senadora Ivete da Silveira (Mdb) – que viveu uma espécie de batismo de fogo na tarefa de senadora, cargo que herdou com a renúncia de Jorginho Mello para assumir o governo estadual. A viúva de Luiz Henrique da Silveira foi a única entre os 13 senadores do Mdb a votar contra a Pec da Transição. A proposta tinha relatoria de um colega de partido, Marcelo Castro (Mdb do Piauí) e contou com o voto favorável até do ex-líder do governo Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra Coelho (Mdb de Alagoas).

Assim, nesse primeiro momento, fica claro que o alinhamento inicial de Ivete não é com a bancada emedebista no Senado, que tende a apoiar o governo Lula, mas sim com o sentimento eleitoral de Santa Catarina e – especialmente – de Joinville, onde é muito forte a rejeição ao petista. Nos bastidores, tem sido dito que os votos de Ivete em projetos do futuro governo podem ser o óleo que lubrifica os canais de acesso de Jorginho Mello ao Palácio do Planalto na gestão Lula. Esse primeiro voto indica alguma dificuldade nessa construção.

Como em 2023 a vaga de Dário Berger será ocupada pelo ultrabolsonarista Jorge Seif (Partido Liberal), Lula começará seu governo sem poder contar com nenhum voto na bancada catarinense no Senado. Como se viu na votação de ontem, o petista tem onde compensar. Fica a curiosidade sobre se esse cenário permanecerá pelos quatro anos de mandato do presidente eleito.

(UPIARA BOSCHI).


 

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