Governador Moisés coloca derrota na conta do 22 e opta pelo silêncio sobre Bolsonaro, Lula, Jorginho e Décio

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Com um mandato a cumprir até o final de 2022 e fora da disputa pelo poder em Santa Catarina por 17.433 votos, o governador Carlos Moisés (Republicanos) não vai se posicionar publicamente sobre as escolhas que fará na urna no dia 30 de outubro. Nem sobre a disputa presidencial entre o presidente e ex-correligionário Jair Bolsonaro (Partido Liberal) e o ex-presidente Lula (Pt), nem sobre o embate dos ex-adversários Jorginho Mello (Partido Liberal) e Décio Lima (Pt). A eleição nacionalizou, com o 22 e o 13 impulsionando também os candidatos locais. É o diagnóstico do governador para terceiro lugar obtido no primeiro turno e também é o cenário de que tenta escapar com o silêncio na segunda volta.

O governador promoveu um encontro com jornalistas na noite de terça-feira em que falou sobre o governo, a eleição, o presente e o futuro. Por cerca de 15 minutos, respondeu com o gravador ligado perguntas feitas por mim, Adelor Lessa e Maga Stopassoli para a Rádio Som Maior. Foi nesse momento que apresentou sua posição de neutralidade no segundo turno – Carlos Moisés vai escolher Bolsonaro ou Lula, Décio ou Jorginho, mas manterá reserva sobre essa escolha.

É um discurso semelhante ao que adotou no primeiro turno, quando rejeitou até mesmo as pressões internas de embarcar na popularidade de Bolsonaro entre os catarinenses. Em 2018, Moisés era o “governador do Bolsonaro”, ambos no extinto Psl. No final de 2019, já seguiam rumos diferentes politicamente, o que gerou uma antipatia militante do eleitor bolsonarista em relação a ele. Eleito por um número, o 17, quatro anos atrás, Moisés avalia que a continuidade de seu governo foi atropelada por outro, o 22 do Partido Liberal que abriga a candidatura à reeleição do presidente e a postulação de Jorginho Mello pelo poder estadual.

Essa avaliação de que “uma nova onda” levou os catarinenses a votar “em pessoas que não conhecem” também serve para minimizar o peso das próprias decisões de Moisés ao longo de sua trajetória política. Optar por um partido pequeno como o Republicanos em vez dos tradicionais Mdb, Progressistas e Psdb, por exemplo, não faria diferença, acredita o governador. Abrir mão da articulação política do ex-secretário Eron Giordani (Psd), que acabou vice de Gean Loureiro (União), chapa que ficou em quarto lugar, também não. Acreditar que a gratidão de mais de uma centena de prefeitos em êxtase pelo repasse de recursos para obras em seus municípios viraria voto na urna, também nada mudaria. É o fatalismo da nacionalização da eleição.

A primeira rodada do Mapa aponta Décio Lima com 35% das intenções de voto, um patamar levemente superior ao alcançado por Lula na mesma pesquisa, 28%. Um sinal de que talvez houvesse uma competição mais acirrada na disputa catarinense se o adversário de Jorginho não fosse um petista. Assim, na sintonia fina da análise política, é importante buscar respostas ao que faltou para que Moisés terminasse o primeiro turno 17.433 votos atrás de Décio. Não apenas para preencher linhas de colunas políticas, como faço eu, mas para desenhar o que poderia e deveria ter sido feito diferente, para o aprendizado político, para a experiência.

Moisés diz que não tem interesse em permanecer no jogo político. Na praia de Ipoã, em Laguna, onde deve se fixar com a primeira-dama Kesia Martins após o final do mandato, ele vai continuar observando o jogo político e aguardar o que diz o futuro. E se cabe, politicamente, nele. Não são poucos os momentos em que a história política de Santa Catarina foi definida ou mudou de rumo por causa de um punhado de votos – 20 mil de Luiz Henrique sobre Amin em 2002, 13 mil de Leonel Pavan sobre Hugo Biehl na disputa pelo Senado no mesmo ano, os 13 mil de vantagem de Amin sobre o Jaison Barreto em 1982. Agora mesmo, Jorginho só é o legítimo dono do 22 em Santa Catarina porque ficou 18 mil votos à frente de Lucas Esmeraldino na disputa pelo Senado em 2018.

A afirmação de que não tem interesse em permanecer na política colide, provavelmente de forma instintiva, com a decisão de não abrir os votos no segundo turno. É uma decisão política e pragmática. As pesquisas realizadas pela campanha, apontavam que boa parte dos votos de Moisés vinha de eleitores que votariam também em Lula. Apoiar o petista, no entanto, quatro anos depois de chegar ao governo pelas mãos do bolsonarismo, seria um gesto que facilmente seria marcado de forma negativa. Aqui no Estado, apoiar o favorito Jorginho não ajudaria em nada a candidatura do Partido Liberal e nem melhoraria a vida do governador. Pelo contrário, foi com Jorginho que Moisés buscou o embate desde o início da disputa.

Resta o silêncio, as avaliações, descobrir quem é leal na hora derrota e a paciência de aguardar o que o futuro vai dizer sobre o governo Moisés.

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