Tradição das viradas no segundo turno beneficia Décio, mas ventos sofram a favor de Jorginho

Santa Catarina vive sua quinta disputa de segundo turno nas eleições para governador. Jorginho Mello (Partido Liberal) e Décio Lima (Pt) se encaram no dia 30 de outubro em uma disputa inédita para ambos os partidos – anabolizadas pela disputa nacional entre Jair Bolsonaro (Partido Liberal) e Lula (Pt), as legendas deixaram para trás nomes e siglas tradicionais da política catarinense. Um cenário novo e diferente das outras quatro vezes em que a disputa pelo poder em Santa Catarina precisou da segunda volta, como dizem os portugueses.

Em três das quatro oportunidades, o candidato que chegou em segundo lugar no primeiro turno venceu a eleição. Em 1994, Angela Amin (Ppr, atual Progressistas) venceu a primeira etapa com 38,4% dos votos e encarou Paulo Afonso Vieira (Pmdb, atual Mdb), que obteve 28,5%. A campanha retomou sem um fator fundamental nessas rodadas extra de disputa: não havia link com a eleição presidencial porque Fernando Henrique Cardoso (Psdb) havia vencido a disputa em primeiro turno. Com a disputa estadualizada, Paulo Afonso fez valer a forte rejeição que as esquerdas tinham em relação à família Amin e ainda recebeu a adesão do Pfl de Jorge Bornhausen, ainda incomodado com a aliança desfeita com Esperidião Amin no pé do altar. Na época, Amin largou a candidatura ao governo em parceria com os pefelistas por uma aventura presidencial. O Pfl improvisou a candidatura de Bornhausen, que ficou em terceiro e deu o troco no segundo turno. Na urna, Paulo Afonso venceu Angela de virada por 40 mil votos de diferença – 50,7% a 49,3%.

A disputa seria novamente em segundo turno em 2002, ainda mais equilibrada e marcada por uma leve redistribuição entre os personagens e outra virada histórica. Governador e favorito à reeleição, Esperidião Amin (Ppb, outro nome antigo do Progressistas) tinha consigo o Pfl, mas acabou arrastado para o segundo pela Onda Lula, que no ano de sua primeira vitória presidencial ficou na frente de José Serra (Psdb) também entre os catarinenses e anabolizou as candidaturas locais. O progressista teve 39,8% dos votos, contra 30% de Luiz Henrique da Silveira (Pmdb) e 27,3% de José Fritsch (Pt). Na segunda rodada, os petistas apoiaram Luiz Henrique com direito a comício de Lula em Florianópolis. A disputa foi voto a voto e confirmou os “ventos da mudança”, como dizia LHS: foram 20 mil votos de vantagem para o peemedebista, 50,3% a 49,7%.

Quatro anos depois, novo segundo turno com os mesmos personagens em novas companhias. Luiz Henrique tinha se afastado do Pt, que não quis participar de seu primeiro mandato, mas tinha atraído pela primeiro vez o Pfl para uma coligação em primeiro turno – era a tríplice aliança, incluindo o Psdb. Isolado, Amin (agora no Pp, o Progressistas havia mudado de nome novamente) tentou a revanche, mas a disputa quase terminou já no primeiro turno: 48,9% para LHS, 32,7% para Amin. Também isolado e buscando palanque para Lula no segundo turno contra Geraldo Alckmin (Psdb), o Pt acabou apoiando o ex-inimigo Amin. O acordo reduziu a diferença vista no primeiro turno, mas a tríplice aliança acabou fazendo valer sua força estadual. Alckmin venceu Lula, iniciando a série de derrotas dos presidenciáveis petistas em Santa Catarina que perdura até hoje. Luiz Henrique foi reeleito com 52,7% contra 47,3% de Amin.

A sina das viradas foi retomada em 2018, depois de duas eleições em que a decisão aconteceu ainda em primeiro turno. Parceiros nos dois governos de Raimundo Colombo (Psd), o Psd e o Mdb se separaram nas candidaturas de Gelson Merisio (Psd) e Mauro Mariani (Mdb), apostando na fragilidade dos petistas catarinenses e na ausência de alternativas para se enfrentarem na segunda volta. Foram surpreendidos pela Onda Bolsonaro, que introduziu o desconhecido Comandante Moisés (Psl à época) na disputa na última hora. Abertas as urnas, Merisio teve 31,1, contra 29,7 de Moisés e 23,2 de Mariani. No segundo turno, nada deteve a onda que resultou na votação acachapante de Moisés, semelhante à que os catarinenses deram a Bolsonaro contra Fernando Haddad (Pt). Moisés teve 71%, Bolsonaro recebeu 75%.

Em 2022, vivemos não apenas um segundo turno estadual com dois partidos que nunca haviam protagonizado a política catarinense, mas também a eleição mais nacionalizada da história do Estado. Os catarinenses reproduziram aqui a disputa entre 22 e 13. É neste cenário que Jorginho Mello luta para não engrossar a lista dos líderes do primeiro turno que sofreram virada na segunda votação, enquanto Décio Lima precisa encarar a disputa sem o grande vendaval que impulsionou essas viradas: a votação do presidenciável entre os catarinenses. Bolsonaro teve 62,2% no primeiro turno contra 29,5% de Lula e nada indica reversão dessa vantagem. (UPIARA).


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