Os fatores que deveriam fazer Moisés acender o sinal amarelo
O aliados do governador Carlos Moisés (Republicanos) não conseguiram disfarçar que esperavam mais dos números da pesquisa Ipec, antigo Ibope, contratada pela Nsc Comunicação e divulgada na noite de terça-feira. A liderança é importante, mas o percentual de 23% deveria fazer o comitê do governador acender um sinal amarelo sobre a campanha eleitoral que se inicia.
Com a máquina na mão, Moisés passou os últimos meses correndo sozinho com uma agenda de obras e distribuição de recursos pelo Estado. A pesquisa aponta, no entanto, que não acumulou gordura para queimar no momento em que deve ser alvo de todos os adversários.
Como exemplo desse tipo de gordura, trago o Estado vizinho. Candidato à reeleição, o ex-governador gaúcho Eduardo Leite (Psdb) lida com problemas comuns ao colega catarinense. O tucano não viveu processos de impeachment ou algum escândalo semelhante à compra dos respiradores fantasmas, mas também se desgastou na política local com a tentativa frustrada de concorrer à presidente da República e é fustigado pelos bolsonaristas por ter feito o combate a pandemia longe, muito longe, do manual do capitão. Enfrenta, também, dois candidatos que lutam pelo apoio (ou silêncio) do presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal).
Moisés, pelos números do instituto, vê os dois candidatos ligados ao governo Bolsonaro no retrovisor e desconfortavelmente próximos. O empate técnico entre os senadores Jorginho Mello (Partido Liberal) e Esperidião Amin (Progressistas), com 16% e 15%, pode indicar uma disputa voto a voto pela presença de um deles no segundo turno. Mas em um Estado como Santa Catarina, em que Bolsonaro tem 50% das intenções de voto segundo o Ipec, há margem para dois bolsonaristas explícitos na batalha decisiva. Moisés, com 23% e a margem de erro de três pontos percentuais, ficou muito próximo de um empate triplo com os senadores.
Mas não é apenas a presença tão próxima de Jorginho e Amin que deve causar preocupação no comitê governista. Agrupados pelo Ipec em um segundo pelotão, Gean Loureiro (União) e Décio Lima (Pt), por diferentes motivos, apresentam potencial de crescimento na campanha eleitoral que começa verdadeiramente na sexta-feira com o horário eleitoral gratuito. Hoje ambos estão aquém das próprias expectativas ao ostentarem, respetivamente, 8% e 6%.
Gean terá o maior espaço no horário eleitoral, um marketing afiado e muita estrutura de campanha. Por mais que o aliado João Rodrigues (PSD), prefeito de Chapecó, queira puxá-lo para perto do bolsonarismo, é na raia de Moisés, longe dos polarização nacional, que ele tem maior potencial de crescimento. Deve apostar todas as fichas no começo da campanha em rádio e televisão, porque continuar desgarrado do grupo principal na segunda rodada de pesquisas pode ser fulminante para suas pretensões – e dificultar a retenção dos aliados no projeto.
Décio tem Lula. O que isso significa em Santa Catarina? Segundo o Ipec, 25% das intenções de voto neste momento da campanha eleitoral. Como os demais candidatos protagonistas são eleitores de Bolsonaro – ostensivamente ou discretamente -, esse percentual é o voto potencial do candidato petista ao governo. A campanha de Décio desde o primeiro minuto tem sido uma tentativa de colar no eleitor catarinense de Lula. Em 2018, no pior momento do Pt em Santa Catarina, ele teve 12% votos para o governo – quase o mesmo percentual do então candidato a presidente Fernando Haddad (Pt) no Estado, 15%.
Os 6% de Décio merecem uma atenção especial desde agora por causa de uma característica que o Ipec herdou do Ibope. Os questionários não trazem o partido, apenas os nomes dos postulantes. Isso pode subdimensionar a intenção de votos dos candidatos que são menores que as legendas a que pertencem – vale para o Pt, vale também para o Novo, cujo candidato Odair Tramontin apareceu com 2% na primeira rodada do Ipec.
Ou seja, tem muita gente atrás de Moisés com potencial de crescimento e o governador entra no jogo sem gordura para queimar. Vai ser longo um primeiro turno, em apenas 39 dias. (UPIARA ON LINE).