Fakenewa é lucro

(…… * Bruno Oliveira)…..
Não é novidade pra ninguém que redes sociais são modelos de negócio e como qualquer outro negócio busca lucratividade. Até aí, nada demais, nada novo, nada errado. O problema é no campo ético: lucrar com desinformação. E, calma: ninguém aqui tá falando que elas foram criadas para desinformar. Mas, digamos, que não se percebe esforço para evitar fakenews. Não porque gostam da mentira, eu acho, mas porque a mentira também traz lucro.

Vejamos: há um conceito chave em tudo que move os algoritmos, programação criada para distribuir conteúdo em sites como facebook e instagram. É um funcionamento complexo, mas podemos simplificar: tudo o que gera engajamento é compreendido pelo sistema como bom conteúdo e passa a ser distribuído para mais pessoas. Engajamento pode ser uma curtida, um compartilhamento ou até mesmo um comentário raivoso. O algoritmo não está interessado na sua felicidade ou no seu desenvolvimento pessoal. Ele quer o seu tempo. Quanto mais tempo você passa dentro da plataforma, mais você está recebendo anúncios, por exemplo, que compreendem boa parte da receita de uma rede social tradicional. Então, se você gasta seu tempo lendo uma notícia verdadeira, ou uma notícia falsa, ou xingando alguém em uma postagem, você ainda, sim, está gastando seu tempo e consumindo anúncios. A diferença é que notícias falsas tendem a ser mais chamativas, polêmicas e, portanto, gerar mais engajamento.

Imagina que você resolva fazer uma postagem agora sobre o Planeta Terra ser redondo. Seus amigos vão ler e pouco vão se interessar. “Ué, mas isso estamos cansados de saber”. Agora, experimente dizer: a Terra não é redonda, ela é plana. Parte de seus seguidores vão te achar louco, comentar indignados. Outros, vão começar a pensar se realmente a Terra não é plana. Pronto, os reações já deram a dica para o algoritmo de que essa é uma postagem que mereça circular mais, pois ela gera engajamento. Então, a distribuição aumenta e o engajamento aumenta junto, criando uma bola de neve para uma notícia falsa. É dessa maneira que as notícias falsas têm ganhado cada vez mais força.

Fakenews existem desde que o homem aprendeu a se comunicar. Mas a potência aumentou logaritmicamente com a vinda das redes sociais. Agora, aqui estamos, em 2021, em um grande dilema: o que fazer para combater as fakenews. Controlar as redes? Mas e a liberdade de expressão? Até onde ela vai? Quem vai dizer o que é verdade e o que é conteúdo ruim? Esse artigo foi escrito para criar mais dúvidas, não tem a resposta.

(*Bruno Oliveira é jornalista).

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