Podem começar a atirar as pedras. Esse é um texto sobre marketing político

(* Frutuoso Oliveira…………)

Mais surpreendente do que a vitória do prefeito Gean Loureiro em primeiro turno foi o fiasco da deputada Angela Amin. Ela já foi prefeita duas vezes da capital e, lá naquele tempo, sempre esteve entre os prefeitos mais bem avaliados do Brasil.

O que causou um fracasso tão grande, deixando-a em quarto lugar com pouco mais de 7% dos votos? A resposta é simples: sua campanha estava fora da realidade. Era uma campanha velha. Angela falava sobre desnutrição e mortalidade infantil, expressões fora do contexto do morador de Florianópolis.

E quando passou a apelar para o moralismo após o prefeito “pegar” uma comissionada no interior de um prédio público aí, como diz o manézinho, descambou de vez. O eleitor queria saber de UPA funcionando e asfalto na frente da sua casa. O resto era perfumaria.

Já há quem diga que Gean derrotou, de uma só vez, os três senadores catarinenses: Esperidião Amin e Dario Berger que estavam com Angela e Jorginho Mello que apoiou Pedrão. Pode até ser isso, mas não é bem isso. Cada coisa no seu lugar e em seu tempo.

Nas cidades grandes, essa história de alianças e quem está apoiando quem não sai da bolha da política. Isso não chega lá na grande massa de eleitores que é quem decide a eleição. Eles decidiram por Gean no primeiro turno porque sua administração, para a maioria, foi boa e, convenhamos, os adversários eram muito fracos.

A maioria nem sabia de que lado estava cada senador. A não ser Esperidião Amin, marido de Angela, por obviedade. Os Amin foram os grandes derrotados nessa eleição. Até porque, a turma da política, sempre gostava de dizer: qualquer Amin que saia candidato tem 30% e está no segundo turno. Ficou provado que isso é coisa do passado.

Mas nada impede que se reinventam e daqui a pouco retomem o protagonismo. O político é o único animal que renasce das cinzas tal qual Fênix.

Gean fez uma boa administração. Conseguiu dominar a narrativa da campanha como sendo alguém trabalhador, sem preguiça, que faz obras por toda a cidade. Ouvi até justificativa para suas cenas dignas de xvídeos no interior da Prefeitura:

– O homem trabalha tanto que se quiser pegar alguém tem que ser no expediente.

A frase é lamentável, mas foi dessa forma que o eleitor encarou o tal “deslize” do prefeito Gean. E na cabeça da maioria isso era um problema entre ele e a esposa. E como ela perdoou, o assunto morreu.

Claro que ele fez uma campanha profissional. Usou bem a TV e as redes sociais. Por outro lado, enfrentou adversários com campanhas amadoras.

Angela parecia ter saído da tumba para disputar uma eleição. Em uma cena que apareceu na TV falando de ratos que comiam orelhas e nariz de crianças, parecia caquética. Quem está comendo pizza e tomando coca-cola com a família no sábado a noite e vê essa cena na TV pensa que a candidata viajou na maionese. Isso está fora da realidade. Jamais vai dar seu voto.

Elcio, o melhor de todos os adversários e por isso a segunda colocação, fez uma campanha voltada para os votos de esquerda e os conquistou. Esqueceu que o eleitorado é bem maior que isso. Enquanto Gean dizia que ia aumentar o número de médicos, Elson ia incentivar o programa estratégia saúde da família.

O eleitor medio não sabe o que é isso. E não está interessado em saber. Comunicação política é papo reto. O eleitor quer saber o que ele ganha para votar em determinado candidato. E aumentar estratégia não diz nada para a grande massa de eleitores. Só entendeu a mensagem a turma da UFSC e olha lá.

Elson é bom candidato. Preparado e serio, mas sua comunicação foi amadora demais. Não falou com a cidade. Em um dos seus programas ele usou a palavra “titubeante”. Ninguém vence uma eleição falando titubeante. Adorava falar a expressão “outros modais”. E não tem um fdp na equipe para dizer que o povo não sabe o que isso significa.

Suas propostas eram mais do mesmo. E se é para continuar com o mais do mesmo o eleitor preferiu ficar com quem já conhecia, mesmo que “pegue” gente no gabinete.

A outra opção, o vereador Pedrão, cresceu na reta final, chegando na terceira posição mostrando para a família Amin que estava certo quando disse a eles, lá atrás ainda filiado no Progressista, que era o melhor candidato da turma. Mas tirou voto apenas da Angela e não do Gean. Mas, tem futuro.

Os demais não ajudaram e não atrapalharam. Sem tempo de tv ou acreditando que ligando o nome ao Bolsonaro fariam alguma coisa, não passaram de traço.

Resumindo: Gean venceu porque “prefeitou”. Esse termo usado fortemente pelo seu marketing é o resumo do seu trabalho. O prefeito precisa prefeitar.

Mas não teve debates na tv, dizem alguns. E poderia ter debate todos os dias. Seriam visto apenas pelas bolhas. Ou alguém acha que o Elson debatendo na tv, com aquele seu jeito de quem está dando aula para a quinta fase de sociologia, mudaria algum voto do trabalhador que está feliz porque o asfalto passou em frente a sua casa?

Gean venceu porque soube associar ação com comunicação. E olha que eu cheguei a pensar que ele estava fazendo barbeiragens políticas ao deixar o MDB e depois mudar o vice. Mas até nisso ele acertou. Sai fortalecido e, se quiser, está na fila para 22.

E tenho dito. 

(* Frutuoso Oliveira é jornalista e analista político)

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