Apesar de tudo, governo tem boas razões para comemorar essa pesquisa
Pesquisa do DataPoder360 realizada de 11 a 13 de maio e publicada no sábado (16.mai).
A fatia dos que acham o governo ótimo ou bom ficou estável em relação ao levantamento feito duas semanas antes, de 27 a 29 de abril. De 29% passou para 30%. Aumentou, porém dentro da margem de erro, de 2 pontos percentuais.
Os que consideram o governo ruim ou péssimo passaram de 40% para 39%. A estabilidade é altamente positiva em meio à crise provocada pandemia da covid-19.
Se o governo olhar apenas para esses dados positivos, porém, perderá grande oportunidade de notar informações preocupantes, que sugerem a necessidade de preparação estratégica. São 4:
O auxílio emergencial impulsionou a aprovação do governo. Entre os beneficiários é maior a proporção dos que acham o governo Bolsonaro bom ou ótimo: 34%. Na população em geral são 30%.
Os que acham o governo ruim ou péssimo são 33% no grupo. Na população, 39%. Mas entre os que já receberam o dinheiro o ótimo/bom é 30%, igual à média da população. Eram 34% duas semanas antes. O ruim/péssimo é 33%, abaixo dos 39% da média. Mas também maior do que os 29% anteriores.
Esse resultado mostra que a satisfação com o benefício é maior quando é novidade, depois passa a ser considerado algo normal. Os economistas chamam isso de utilidade marginal decrescente. A conclusão é que provavelmente não vale a pena prorrogá-lo. Mas cabe 1 cuidado: quando se corta algo, a insatisfação pode voltar para 1 patamar mais alto do que antes de a ajuda ser concedida.
A pesquisa mostrou que 41% dos brasileiros acham que devem ser proibidas manifestações a favor de fechar o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal).
Outros 36% acham que não. Mas isso não quer dizer, vale lembrar o óbvio, que sejam necessariamente a favor do que dizem os manifestantes, apenas que acham que eles têm o direito de manifestar essa opinião. Outros 23% não souberam responder à pergunta.
Entre os que defendem a proibição desse tipo de expressão, 64% acham o governo ruim ou péssimo. Ou seja: atrapalha a popularidade do governo apoiar ou mesmo se omitir diante dessas mensagens.
Bolsonaro já percebeu isso. No domingo, seus seguranças pediram a retirada de faixas com mensagens contra o STF e o Congresso que manifestantes exibiam em frente ao Planalto.
A soma de ótimo e bom entre os que recebem de 2 a 5 salários mínimos caiu de 27% para 24%. Péssimo e ruim aumentou de 44% para 59%, alta de 15 pontos percentuais.
Esse grupo representa apenas 9,4%. Mas sua opinião pode costuma influenciar outros, sobre os de menor renda. As interações são maiores com outras pessoas do que as do grupo de alta renda, no qual a percepção do governo se torna melhor. No grupo de 5 a 10 salários mínimos (5,8% da população), o total de ótimo e bom caiu de 40% para 31%, também muito significativo.
Disseram ter medo de morrer caso sejam contaminados pelo coronavírus 30% dos entrevistados. Eram 26% há duas semanas. O número dos destemidos também subiu: de 41% para 46%.
Claro que esses 30% não representam a chance real de as pessoas morrerem. Mas o que importa aqui é a percepção. E a evolução disso: cresce a proporção de pessoas que se sentem vulneráveis à medida que o número de casos e de mortes aumenta. A linha é ascendente, portanto á razoável a inferência de que cada vez mais pessoas terão medo.
O resultado desaconselha o presidente a fazer pouco da pandemia. Chamar de gripezinha ou passear de jet-ski enquanto o número de mortes sobe não vai ajudá-lo em nada. Muito menos o país.