Saída de Sérgio Moro terá reflexos nas eleições municipais

(* Cláudio Prisco Paraíso—————————————–)

Além do abalo sísmico que a estridente saída de Sérgio Moro do governo Bolsonaro causou, a baixa na esplanada também trará reflexos nas eleições municiais (deste ou do próximo ano).

Muitos candidatos alinhados ao presidente, ou que pretendem passar esta imagem, contariam com isso e, de lambuja, por assim dizer, poderiam trazer o agora ex-ministro ao seu palanque virtual. E até do real.

Moro simboliza o combate à corrupção no Brasil e deixa a administração sem arranhar esse lustro. Pode, inclusive, ter reforçado esta imagem. A conferir os desdobramentos.
Trazendo o quadro para a província, o coronel Araújo Gomes, em Florianópolis, por exemplo, terá que optar. Vai de Bolsonaro ou Moro? Se depender do governador Moisés da Silva, o encaminhamento é claro na direção do ex-magistrado.

A força do presidente entre os catarinenses, no entanto, não poderá ser desprezada. E assim será nas mais variadas cidades, onde os candidatos bolsonaristas não poderão mais contar com o apoio de Sérgio Moro. Ou é um ou é outro.
Reação presidencial

Depois da fala do presidente Jair Bolsonaro, que se saiu bem frente às câmeras e conseguiu, ao que parece, cumprir um roteiro para gerar comoção, o desgaste dele junto ao apoiadores depois do estrondoso pedido de demissão de Sérgio Moro pode ser atenuado.

Chegamos àquele ponto da minha palavra contra a dele. Por isso, é cedo para dizer, por exemplo, que o presidente pode ter conseguido virar o jogo.

Jogo manjado

Por ora, Sérgio Moro demonstra a força de seu prestígio junto à opinião pública enquanto o clã Bolsonaro segue fazendo um jogo já manjado de tentar manobrar a opinião pública de acordo com seus interesses. Contra tudo e todos.

Investigação

O Procurador-Geral da República, Augusto Aras, mandou abrir investigação para apurar a declaração de Moro, de que o presidente estaria tentando interferir no trabalho da PF, algo que Bolsonaro negou categoricamente.

Ônus da prova

Moro terá que provar o que disse. Como ex-juiz, ele sabe muito bem que o ônus da prova cabe a quem acusa. Se isso ocorrer, Bolsonaro pode ir preparando o pijama. Agora, se ali adiante se comprovar que o ex-ministro realmente não é o que parece ser, daí o presidente sai fortalecido do episódio. Aguaremos os próximos capítulos!

Pano de fundo

Também importante observar que o presidente deu uma pincelada na questão eleitoral, sugerindo que Moro poderia estar colocando um projeto pessoal acima dos encaminhamentos do atual governo e que tentou cravar a pecha de traidor na testa do ex-magistrado. Agora, os fatos continuam aí: o diretor da PF saiu do cargo um dia depois de Bolsonaro ter se acertado com o Centrão, que reúne partidos recheados de condenados e investigados pela Lava Jato.

 (* Cláudio Prisco Paraíso é jornalista).

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