Protocolado na Assembleia Legislativa pedido de impeachment do governador Carlos de Santa Catarina
( Informações do Jornal Notícias do Dia e de Paulo Alceu)
O aumento para procuradores do Estado incluídos na folha de pagamentos desde outubro de 2019, como revelou o ND+ na última quinta-feira (9), é base para um pedido de impeachment por crime de responsabilidade contra o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL).
O documento de 135 páginas foi protocolado nesta segunda-feira (13) na Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina). O autor da tentativa de retirar o chefe do Executivo do cargo é Ralf Guimarães Zimmer Júnior, ex-defensor público-geral do Estado e que também era presidente da Adepesc (Associação dos Defensores Públicos de Santa Catarina).
Zimmer renunciou ao cargo na entidade representativa da categoria antes dar entrada no processo no protocolo do Legislativo. “É um ato de civismo, muito maior do que o interesse da categoria que ficou receosa de sofrer represálias e não quis assinar depois de uma assembleia deliberativa. Além disso, pelo rito deste tipo de processo na Alesc é preciso que seja feito por pessoa física”, argumento o defensor público, em entrevista à reportagem.
Ele também usou o mesmo documento para pedir a abertura de inquérito por crime comum contra o governador no MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) e também de processo no TCE-SC (Tribunal de Contas de Santa Catarina) de auditoria nos atos de pessoal do governo estadual.
Um grupo de juristas e advogados defendem a mesma tese, afirma Zimmer, mas ele informou a que revolveu entrar sozinho com o pedido quando estes grupos decidiram aguardar o fim do recesso do Legislativo e do Judiciário. O defensor público não informa, por enquanto, quem são estas pessoas que encamparam sua tese jurídica.
Verba de equivalência
Segundo o documento, a equiparação salarial dos procuradores é ilegal por que uma decisão de 2010 do TJSC mudou o entendimento sobre a chamada verba de equivalência. Para Zimmer, a alegação citada na decisão é a de que a emenda Constitucional 19/98 proíbe a possibilidade de qualquer vinculação ou equiparação remuneratória entre os servidores públicos. E por esse motivo a mudança fez com que se perdesse os efeitos do art. 196 da Constituição Estadual, que previa a isonomia entre os procuradores do Estado e da Alesc.
Como mostrou o ND+, os valores foram inseridos antes mesmo de o Estado ser notificado pelo TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) para que cumprisse decisões ainda de 2004 e em processos que tramitavam desde 1997 e 1998. Na primeira ação, julgada em novembro de 2019, o Executivo informou que já tinha concedido à remuneração extra, conhecida por verba de equivalência, para todos os advogados do Estado. Na prática, a medida equipara os salários da categoria com a dos procuradores da Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina), que têm uma média salarial bruta de R$ 35 mil.
Além disso, o pedido argumenta que somente os procuradores que eram associados a entidade representativa da categoria em 2004 poderiam terem sido beneficiados pela medida, considerando a decisão do TJSC usada pelo governo. Mas ao contrário do entendimento jurídico do autor do pedido, o Executivo incorporou a diferença salaria para todos os procuradores ativos e inativos.
Impacto da medida
Na última decisão, de 17 de dezembro de 2019, o desembargador Pedro Manoel Abreu deu prazo de dez dias para que o Estado informe como pagará os valores da mesma verba referente aos meses de janeiro a setembro de 2019, antes da incorporação nos vencimentos. A decisão administrativa contraria o veto do governador em junho de 2019 a uma emenda proposta pelo Legislativo no projeto de reforma administrativa, que também aumentava os salários dos procuradores.
Na justificativa do veto, o Executivo argumentou que essa proposta resultaria em aumento de despesas não previstas. A proposta dos deputados vinculava os salários dos procuradores aos dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), assim como dos desembargadores estaduais.
O impacto da medida é de R$ 7,7 milhões, de acordo com dados do governo, mas pode chegar a R$ 8,8, segundo o pedido de impedimento do chefe do Executivo. Segundo a Secretaria de Administração, a implementação resultou em um gasto total mensal de R$ 767.633,25 para 161 servidores da PGE (Procuradoria Geral do Estado) entre ativos e inativos. Além disso, a conta para pagar os retroativos de janeiro a setembro vai custar ao Estado “cerca de sete milhões de reais”.
Sigilo ilegal, diz autor do pedido
O defensor público também argumentou que o processo administrativo que concedeu a equiparação salarial não deveria ter sido feito forma sigilosa, o que tornaria o ato ilegal.
“Em outras palavras, referido procedimento secreto e ilegal do qual se abeberou o ordenador primário (senhor governador e senhora governadora) para buscar prestígio entre os procuradores sem ter que pagar o ônus inerente da função de vi a público por lei e dizer: ‘sim, concedemos aumento’, denota o grau de falta de consideração com a população, com o parlamento e com os princípios mais comezinhos da república”, diz Zimmer na sua peça de acusação contra o governador.
Zimmer inseriu dentro do pedido de impedimento todos os documentos do processo administrativo que tramitou em sigilo dentro do sistema do governo estadual.
Contraponto
A reportagem do ND procurou o Executivo por meio da sua assessoria de comunicação, mas até a publicação desta reportagem não recebe retornou ao pedido de informações e contraponto sobre o pedido de impeachment. O último pedido semelhante na Alesc aconteceu em outubro de 2016.
O documento era de autoria do Fórum Catarinense em Defesa do Serviço Público. O argumento era as irregularidades no uso de R$ 615 milhões em impostos devidos pela Celesc em 2015.
A manobra classificada como “pedalada” do governo Colombo reduziu os repasses dos demais Poderes e da Udesc, além de reter R$ 198,9 milhões da participação dos municípios no ICMS também de 2015.
Sobre este pedido de 2016, a petição foi arquivada pelo ex-presidente da Câmara Gelson Merísio (PSD). O deputado alegou na época que o Regimento Interno da Alesc e do STF (Supremo Tribunal Federal) não permitia que entidades e/ou pessoas jurídicas ingressassem com tal solicitação.
Depois deste, mais três pedidos contra o ex-governador foram protocolados sobre a alegação de que nas delações de dois diretores da Odebrecht e da JBS traziam doação de recursos em caixa dois para a campanha de 2010.