Bolsonaro fala na ONU de socialismo, colonialismo e expõe racha de povos indígenas

O discurso do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, na abertura da Assembleia geral da ONU, nesta terça-feira (24), em Nova York, foi marcado por duras críticas à mídia, a países europeus que se mobilizaram em defesa da floresta amazônica e à ideologia “socialista”. Bolsonaro também leu uma carta endereçada à comunidade internacional pelo “grupo dos agricultores indígenas”, que apoiam seu governo. “O monopólio do senhor Raoni acabou”, declarou o presidente ao fim da leitura.

Veja o vídeo com a íntegra do discurso.

“Primeiramente queria reestabelecer a verdade, o que é bom para todos nós”, foi a frase de abertura do discurso, que durou cerca de vinte minutos. Ele seguiu afirmando que o Brasil “esteve muito próximo do socialismo” no últimos anos, o que gerou uma situação de “corrupção generalizada e ataque ininterrupto aos valores religiosos”, que , nas palavras do presidente, foram as tradições do país. Na parte final de sua fala, Bolsonaro mencionou que ele próprio foi vítima da ideologia. “Fui esfaqueado por um militante de esquerda”, disse.

Ele mencionou então, sem usar citar a ruptura democrática no Brasil, que levou a uma ditadura civil-militar entre os anos de 1964 e 1984, o Brasil combateu e venceu agentes cubanos nos anos 1960 enviados à América Latina para implantar a ditadura comunista. “ Vencemos aquela guerra e resguardamos nossa liberdade”,  disse, repetindo para a comunidade internacional a versão adotada por seu governo para se referir à necessidade da ditadura militar no Brasil.Bolsonaro citou o programa Mais Médicos (implantado pelo governo Dilma Rousseff, do PT,  em parceria com Cuba e com a Organização Pan Americana da Saúde -OPAS) como exemplo de trabalho escravo “respaldado por entidades de direitos humanos e pela ONU”.

Depois de atacar seus antecessores, os países vizinhos e a própria Organização das Nações Unidas, o presidente brasileiro adentrou o tema mais esperado: sua política ambiental. O tom foi de ataque à imprensa e aos países europeus que criticaram o compromisso brasileiro com a preservação ambiental.

Bolsonaro argumentou que o período de seca favorece queimadas espontâneas e criminosas na floresta amazônica, e que a prática de queimadas também faz parte da vida tradicional de algumas etnias indígenas. “Os ataques sensacionalistas que sofremos por grande parte da mídia internacional devido aos focos de incêndio na Amazônia despertaram nosso sentimento patriótico, é falácia dizer que Amazônia é patrimônio internacional”, declarou Bolsonaro.

Em seguida, fez alusão, sem citar diretamente, à postura da França na reunião do G7, em agosto, que pautou o tema das queimadas no Brasil. “Alguns países se comportaram de  forma desrespeitosa e com espírito colonialista ao sugerir aplicar sanções ao Brasil sem sequer nos ouvir”, afirmou Bolsonaro. “Agradeço a quem não levou adiante a proposta, em especial ao presidente dos EUA, Donald Trump, que sintetizou o espírito que deve reinar na ONU: respeito à soberania”, completou.

Bolsonaro expôs a existência de um racha entre os povos indígenas ao mencionar a legitimidade da indígena e youtuber Ysani Kalapalo, sua apoiadora, para representá-los. “A visão de um líder indígena não representa a de todos os líderes, alguns são usados como peça de manobra por governos estrangeiros para avançar seus interesses sobre Amazônia”, falou. Ele destacou que os indígenas não querem ser “latifundiários pobres em cima de terra rica” e citou as reservas minerais estimadas nos territórios Yanomami e Raposa Serra do Sol. “Muitas comunidades estão cedentas para que desenvolvimento ocorra sem amarras ideológicas e burocráticas”, menciona o presidente, que também associou a situação pobreza de povos indígenas ao “ambientalismo radical e indigenismo ultrapassado”.

“Acabou o monopólio do senhor Raoni”, discursou Bolsonaro ao fim da leitura. Durante os meses de maio e junho deste ano, o líder indígena Raoni Metuktire, 87 anos, etnia kayapó, percorreu a Europa denunciando a política ambiental e indígena do governo Bolsonaro, assim como avanço dos madeireiros e do agronegócio sobre o Parque Nacional do Xingu.  Ele também buscava recursos financeiros para proteger a área. Raoni foi recebido pelo presidente francês, Emmanuel Macron, assim como pelo Papa Francisco, chefe da igreja católica apostólica romana. O líder indígena brasileiro esteve ainda na Bélgica, Suíça, Luxemburgo, Mônaco e Itália. Nos anos 1980, Raoni combateu a ditadura militar no Brasil.

“A ONU teve papel fundamental na superação do colonialismo e não pode aceitar que esta mentalidade regresse a esses corredores”,comentou ainda o presidente Brasileiro.

Além de elogiar o presidente dos EUA, Jair Bolsonaro também afagou seu ministro da Justiça, Sérgio Moro, ao comentar o compromisso brasileiro, fora e dentro da ONU, de combater a corrupção e o terrorismo internacional. “Terroristas sob disfarce de perseguidos políticos não mais encontrarão abrigo no Brasil. Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto. Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo no meu país, o Dr. Sérgio Moro, nosso atual Ministro da Justiça e Segurança Pública.”, destacou Bolsonaro. (Congresso em Foco).

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *