História, cavalgada e natureza encantam a Rota dos Tropeiros no Paraná, mas nossa região está excluída
Uma mistura de história e boa comida, cavalgada e natureza é o que o visitante encontra na rota dos tropeiros, atrativos que se espalham por várias cidades dos Campos Gerais, no Paraná. A rota nasceu do movimento das tropas que levavam mulas de Viamão, no Rio Grande do Sul, até as feiras de Sorocaba, em São Paulo, nos séculos 18 e 19.
A região tem tantas atrações que até fica difícil escolher o mote da visita: os museus, cavalgadas e outras marcas dos tropeiros, temperados pela herança culinária dos viajantes; ou a natureza curiosa das formações rochosas dos arenitos gigantescos de Vila Velha, esculpidos pela água e pelo vento durante 350 milhões de anos; e o Cânion do Guartelá, o maior do Brasil, o sexto do mundo em extensão e o único com vegetação nativa, de acordo com o Guiness, o livro dos recordes.
Um bom motivo para começar esta jornada pela história é a comemoração do Dia do Tropeiro neste mês de abril. O ponto de partida pode ser a cidade da Lapa, o coração do movimento, e que completa 250 anos de fundação em 13 de junho. Ou a cidade de Palmeira, que ainda guarda a memória da Colônia Cecília, a experiência anarquista implantada em terras tropicais por um grupo libertário italiano comandado pelo jornalista e agrônomo Giovanni Rossi, por quatro anos a partir de 1890.
SÍMBOLO – A região dos Campos Gerais fica no segundo planalto paranaense, uma área que tem mais ou menos em seu centro a cidade de Ponta Grossa (a 115 quilômetros de Curitiba), em meio a uma paisagem marcada pelas matas de araucária, o chamado pinheiro do Paraná, tão típico do Estado, e campos abertos até perder de vista.
Os Campos Gerais formam uma das 14 regiões turísticas em que o Paraná foi dividido, para melhor planejar e desenvolver o setor, a partir das características especiais de cada uma, como pode ser visto no portal http://viajeparana.com, criado pelo Governo do Estado para divulgar os atrativos e estimular a movimentação de turista pelo Estado e o desenvolvimento econômico local.
“O tropeirismo é um dos pilares do turismo cultural, que não se resume a datas, é uma atração permanente”, avalia o diretor de Marketing da Paraná Turismo, Aldo Carvalho.
HISTÓRIA VIVA – Por ali passavam e descansavam as tropas, num roteiro que entra no Paraná por Rio Negro e segue para Campo do Tenente, Lapa, Balsa Nova, Campo Largo, Colombo e Araucária, de um lado, e, de outro, Porto Amazonas, Palmeira, Ponta Grossa, Carambeí, Castro, Tibagi (onde fica o Guartelá), Telêmaco Borba, Piraí do Sul, para seguir por Jaguariaíva, Arapoti e Sengés e entrar no estado de São Paulo.
Depois de uns dois terços do percurso de 4 mil quilômetros entre Viamão e Sorocaba estava o que hoje é a cidade da Lapa. Ali se localizam algumas das principais “invernadas”, os ótimos pastos e a água boa onde as mulas e o gado se recuperavam.
Chegavam magros da primeira parte da longa caminhada e saíam gordos, no ponto para serem vendidos em São Paulo e levados, depois, para fazer o trabalho pesado nas Minas Gerais.
Hoje a Lapa é conhecida como a “Legendária”, pelo seu passado histórico. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a cidade é um exemplo de preservação arquitetônica, com casas bem restauradas, lampiões (réplicas dos usados no século 19) e ruas de paralelepípedos.
Estão lá a Igreja Matriz de Santo Antônio, a construção mais antiga da cidade; o Theatro São João, que recebeu a visita do imperador D. Pedro II; o Museu Histórico, com um acervo de peças raras de arqueologia, fotos, quadros e a cama onde morreu o general Carneiro; o monumento ao Tropeiro, obra do artista Poty Lazarotto, e o Parque Estadual do Monge, onde está a Gruta do Monge, onde viveu João Maria D’ Agostini, um dos monges a quem se atribui milagres.
A história também foi marcante em outro momento do município. Ali se deu o famoso cerco da cidade, durante a Revolução Federalista em 1894, que durou 26 dias. As forças republicanas (os pica-paus) foram derrotadas pelos revoltosos do Sul (os maragatos), que se opunham ao sistema presidencialista, mas a resistência das tropas comandadas pelo general Carneiro permitiu que as forças leais ao então presidente Floriano Peixoto se recompusessem e fizessem frente aos revolucionários.
Gastronomia enriquece passeios pelos Campos Gerais
Comidas típicas que chegaram ao longo da história conquistam os visitantes que decidem conhecer os Campos Gerais. Depois da passagem dos tropeiros, a região foi recebendo imigrantes das mais variadas procedências, a exemplo dos anarquistas de Giovanni Rossi. Os russos-alemães em 1878, descendentes dos alemães que tinham emigrado para o Baixo Volga, a pedido na czarina Catarina II, alemã que reinava na Rússia; os poloneses em 1888 e, já neste século, em 1951, os alemães menonitas, que fundaram a Colônia Witmarsum e a próspera Cooperativa Mista Agropecuária Witmarsum, produtora de leite, derivados e produtos de frango.
Com os tropeiros, veio o virado de feijão ou feijão tropeiro, arroz com carne seca (charque), o conhecido carreteiro. Chegou com eles o costume de usar muita farinha, pimenta do reino, toucinho e fubá. E também não dá para esquecer o leitão à pururuca e a costela no fogo de chão, assada durante horas enquanto as rodas de conversa ao redor das fogueiras faziam os “causos” mais assustadores saltarem das chamas para o folclore local.
Dizem que a preferência era pelo feijão-preto com pouco molho e muitos pedaços de carne de sol e toucinho, servido com farofa e couve picada. Tudo regado a uma cachacinha, especialmente nos dias muito frios ou, como “justificam”, para evitar a picada de insetos.
Com os imigrantes, a variedade aumentou. Carne de porco, repolho e massa de pão cozida no vapor são os três ingredientes básicos de outra das mais tradicionais receitas da culinária palmeirense, o Pão no Bafo, também conhecido localmente como Pão de Bafo e Pão de Russo.
O Pão no Bafo chegou a Palmeira em 1878, junto com os primeiros imigrantes russos-alemães, que se instalaram em Quero-Quero, Colônia Papagaios Novos, Santa Quitéria, Lago e Pugas. Desde então o prato passou a fazer parte do dia a dia das famílias palmeirenses. E agora, mais de um século depois, a receita ganhou o título de Patrimônio Imaterial da cidade de Palmeira.
A variedade não para por aí. A coxinha de farofa é outro exemplo dos mais tentadores. Desde a década de 40 do século passado, essa iguaria de farofa de frango desfiado com farinha de milho envolta em massa de pastel conquista todos que experimentam. Para fechar, não se pode esquecer a quirera, uma papa de quirera de milho cozida com carne de porco e temperada com cheiro-verde e manjerona.
Museu, capelas e ecoturismo conquistam visitantes de Palmeira
Este mês de abril é todo de festa em Palmeira (75 quilômetros de Curitiba), que também está de aniversário, completando 200 anos. As festividades principais, marcadas inicialmente para o dia 7, foram adiadas para o dia 28 por causa do mau tempo. São muitas as atrações de dança, orquestra, coral, teatro e grupos folclóricos, além de pirotecnia e muita gastronomia, na melhor tradição tropeira.
Os passeios também são muitos. A começar pela Colônia Witmarsum, que lembra muito um recanto da Europa. A pequena vila de casas ao estilo germânico reúne confeitarias e restaurantes típicos, cervejarias, pousadas, museu histórico, ecoturismo e uma feirinha do produtor aos sábados pela manhã. A culinária local oferece tortas e salsichas alemãs, eisbein (joelho de porco), chucrute e marreco recheado.
Palmeira é um sem-fim de pequenas e agradáveis suspresas. Ao longo de um corredor de grama e muitas árvores, 14 capelinhas de pedra contam a história de um imigrante português. Dispostas em forma de cruz, as capelinhas formam o Santuário do Senhor Bom Jesus do Monte, na comunidade de Vieiras.
O espaço cultural do Sítio Minguinho permite uma viagem no tempo, mostrando os vários ciclos econômicos da época da colonização do município. O acervo é de objetos dos imigrantes de várias etnias, como o barbaquá (forno para secar erva-mate), a tafona (moinho manual), roda d’água e monjolos.
O Memorial Polonês, construído com a técnica do encaixe das vigas de madeira, e a Ponte do Rio dos Papagaios são outros pontos que valem a pena ser vistos. Construída em dois arcos de alvenaria de pedra, a ponte é considerada um monumento da engenharia nacional, cuja construção foi autorizada pessoalmente por D. Pedro II. Para ninguém botar defeito. (SECOM/GOVERNO DO PARANÁ).