Petismo repaginado
* Mario Vitor Rodrigues
A sensação no fim daquele domingo foi tão ruim, um aperto no peito tão forte, que até hoje não esqueço. Dilma acabava de ser reeleita e eu só tinha uma certeza: sob a batuta do PT e de uma presidente inadequada, o Brasil continuaria indo para o buraco.
O resto é história. A dinastia petista terminou de maneira traumática, porém merecida. Em um País onde sempre houve corrupção, nunca se roubou tanto. Em um terreno fértil para o populismo, jamais se abusou tanto da retórica para dividir a sociedade com o intuito de permanecer no poder, incluindo ataques desavergonhados à imprensa. Em um ambiente talhado para o estabelecimento de relações promíscuas nas esferas governamentais, a ciranda de favores viveu seu grande momento.
Eu só não podia imaginar que o petismo continuaria a toda mesmo após a derrocada do PT.
Vale dizer, o único aspecto que no momento diferencia o atual governo das gestões Lula e Dilma é a corrupção. Não que isso seja um diferencial louvável — além de se tratar de uma conduta criminosa, dificilmente o País testemunhará outro assalto aos cofres públicos tão espetacular. De resto, com menos de um mês entronado, Jair Bolsonaro e seus mosqueteiros seguem fielmente a cartilha que tantos danos trouxe ao País.
Ou não é verdade que o próprio presidente e membros do governo passam horas diárias fomentando intrigas nas redes sociais? Eles desferem ataques aos que ousam questionar os primeiros passos da gestão, rotulando-os com toda sorte de adjetivos, ameaçando e desqualificando veículos de imprensa. Ou não é real que, em vez do tão propalado critério técnico, comportamentos escusos têm se sucedido logo de cara, como a nomeação de preferidos? É gente que passou meses tecendo loas à doutrina do bolsonarismo em artigos ou blogs. E a vergonhosa nomeação do filho do vice-presidente no Banco do Brasil? Sem falar, claro, no episódio Fabrício Queiroz, ainda obscuro, mas já farto de indícios que comprovam o quão desprovida de substância foi a propaganda eleitoral de Jair Bolsonaro quando anunciava o princípio de uma nova era.
Assim como a maioria dos brasileiros, torço fervorosamente para o bom trabalho de Paulo Guedes e Sergio Moro. O sucesso de ambos, afinal, se confunde com o sucesso do Brasil. Apenas não me iludo com a postura ética desse governo. Não tenho motivos para isso. Muito pelo contrário.
Torço pelo bom trabalho de Paulo Guedes e Sergio Moro, apenas não me iludo com a postura ética desse governo. Não tenho motivos para tanto.
(* Mario Victor Rodrigues é redator da revista IstoÉ).