Professores e pesquisadores realizam visita de campo no Casarão da Família Domit, em Irineópolis

Quando a beleza exuberante da Mata de Araucárias se soma a uma arquitetura típica e imponente, o belíssimo resultado nos convida a contemplar o encanto, a simetria e a grandiosidade da paisagem cujo foco central tem, em seu primeiro plano, o Casarão, ou a Casa com Varandas, ou a Casa das Janelas ou, ainda, simbolicamente, a Casa Amarela. Trata-se de um convite, um aceno eum esforço singular buscando imaginar por meio do visível o cotidianoe as vivências do século XX, os acontecimentos políticos e econômicos que ali se sucederam, as célebres visitas e a dinâmica da construção socioespacial de Valões, hoje Irineópolis.

Quando a visita de campo é guiada por alguém cujas memórias são alimentadas por relações familiares, estimuladas por experiências pessoais e solidificadas por recordações particulares, o aprendizado se torna ainda mais aprazível e convidativo – o acréscimo da emoção é um diferencial significativo. E foi assim que neste último sábado, 15 de setembro, um grupo interdisciplinar formado por professores, pesquisadores e alunos realizou uma atividade de campo no Casarão da Família Domitrecebidos e orientados pelo atual proprietário o Engenheiro Civil Roberto Domit de Oliveira.O intuito foi o de perceber, por meio da diversidade dos olhares, as inúmeras potencialidades do lugar evidenciando os elementos que retratam e representam sua importância histórica, geográfica, arquitetônica, turística, pedagógica, religiosa, política e econômica para a região.Professores, pesquisadores e acadêmicas do Curso de Geografia da UNESPAR – Campus União da Vitória, do Colégio São José, do Instituto Histórico e Geográfico de São Mateus do Sul e da Representação Central da Comunidade Brasileiro-Polonesa no Brasil – Braspol, tiveram a oportunidade de contemplar este rico cenário e desfrutar dos relatos e lembranças acerca do Casarão da Família Domit.

Concluída em 1928, a residência conta com cômodos mobiliados que estimulam a imaginação e contribuem na tentativa de imaginar as memórias que cada espaço guarda através do tempo. No primeiro piso, já ao lado direito da porta, o escritório do Coronel Joaquim Domit, avô de Roberto, em si e somente, desafia a uma viagem cujas recordações são reveladas e materializadas em cada objeto, fotografia, móvel, livro, entalhe e detalhe. Ao lado, na sala de jogos, o rádio, a mesa de bilhar, a prensa, o telefone, os quadros, a pia e o cortador de fumo nos estimulam a perceber as vivências que o cômodo abrigou. No quarto principal, do casal Joaquim e Sofia, o berço que abrigou e ainda aninha as crianças da família, os quadros e imagens de Santos de devoção, o biombo, a penteadeira e, de todos os móveis ricamente adornados, o guarda-roupa que ainda acomoda cuidadosa e carinhosamente as vestimentas de Dona Sofia, avó de Roberto.

A sala de jantar, coração da recepção familiar da casa, é um cômodo incrivelmente bem decorado em que cada particularidade evidencia os momentos de decisão, diálogo e comunhão com os que à mesa sentaram-se. A cozinha, que somada à dispensa (que fica do outro lado do belíssimo corredor), aguça os sentidos: imaginamos os cheiros, os sabores e os momentos ali compartilhados e vividos. O Casarão contém ainda os banheiros, outros quartos e uma impressionante sala de recepção que acolhe as imagens sacras da antiga Capela da Fazenda que foi derrubada por um vendaval. No piso superior encontramos cômodos, documentos e recordações de quase 100 anos de vivências, momentos importantes e história. Nos arredores da casa, o forno à lenha, o pé de camélias, o antigo aquário e uma delicada e ao mesmo tempo imponente cerca que delimita os arredores do Casarão. São 475 metros quadrados e 34 janelas que, associados a um discurso apaixonadamente intenso do proprietário, nos permitiram contemplar não só a beleza extraordinária do cenário e da paisagem, mas também nos possibilitaram perceber a dimensão e a relevância deste espaço incomparável para o município e região.

Trata-se não só de uma belíssima paisagem. O Casarão é símbolo. As memórias são conhecimento. As histórias de família são retratos de uma época. De todo o aprendizado vivenciado, nosso discurso único é o de que precisamos nos dar conta da importância do nosso patrimônio cultural para além de seu valor material. É necessário e urgente que esta pauta esteja presente em nosso discurso, que reconheçamos nossa História e dela sejamos guardiões, para além da materialidade que asseguremos nossas memórias.

Por fim, um agradecimento especial a Roberto Domit de Oliveira, neto de Joaquim e Sofia, por ter valorizado a universidade pública e gratuita e nos dado a oportunidade de partilhar de seu espaço particular e de suas memórias afetivas. (Profª. Drª. Alcimara Aparecida Föetsch/Colegiado de Geografia – UNESPAR – União da Vitória).

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