Debate na TV Bandeirantes quinta-feira foi um momento de desilusão para os paranaenses
(Por Rogério Galindo, Caixa Zero/Gazeta do Povo)
Um debate eleitoral serve para vários fins: o principal é que o eleitor seja auxiliado em sua decisão de voto, claro. Mas, pensando no longo prazo, vale ver também a quantas anda o nível da política e dos candidatos que se apresentam para os cargos importantes.
Nesse sentido, o debate da Band desta quinta foi um momento de desilusão para os paranaenses. É nítida a queda de qualidade dos candidatos em relação à geração anterior: candidatos vacilantes e dominados pelo discurso decorado deram a tônica de uma conversa superficial e, em muitos momentos, desinteressante.
É visível que o Paraná passa por um momento de transição. Os nomes que dominaram o cenário político desde os anos 1980 chegam ao fim de suas carreiras: Lerner está aposentado; Requião, aos 77 anos, só quer se reeleger senador; Alvaro Dias deixou a província para trás; Osmar Dias aparentemente pendurou as chuteiras.
A eleição e a reeleição de Beto Richa já marcaram esse momento de transição, mas ele ainda concorria com a velha guarda – e sua superficialidade era pelo menos confrontada por oponentes que levantavam o nível das discussões. Dessa vez, quase não sobrou ninguém para essa tarefa.
É evidente que não se trata de toda uma geração de políticos rasos. Há gente mais articulada, com uma visão de mundo mais sofisticada – mas, por um ou outro motivo, não foram esses os que chegaram à disputa do cargo mais importante da política local.
No debate da Band, por exemplo, foi impossível saber qual é a postura dos principais candidatos diante do mundo. Como enxergam os grandes problemas da humanidade. Como pensam a questão da pobreza, da distribuição de renda; qual sua postura sobre o capitalismo e suas alternativas; nenhuma questão estrutural foi sequer percebida, quanto mais problematizada.
Os discursos, principalmente de Ratinho Jr. (PSD) e Cida Borghetti (PP) são marcados por platitudes. Frases fáceis e óbvias, por vezes tautológicas. Refrões publicitários que parecem mais adequados à venda de eletrodomésticos ou produtos de higiene pessoal: o que significa um candidato ser “moderno”? O que significa uma “visão feminina”?
Os candidatos com menor possibilidade de eleição foram os que ainda serviram para elevar um pouco o nível. Mas só um pouco. João Arruda (MDB), medido pela régua do tio, Roberto Requião (MDB), ainda é um garoto de calças curtas, embora com potencial. Dr. Rosinha (PT), o mais ideológico dos candidatos de partidos grandes, ficou escanteado.
A aberração foi tamanha que Ogier Buchi (PSL), um mercador de posições populistas baratas, na comparação se saiu bem. E um debate em que Ogier é a medida da qualidade deve ser desolador.
Ele e o Professor Piva (PSol), não por coincidência os azarões e os extremos ideológicos, no mínimo foram capazes de determinar um território onde se encontram e uma postura diante dos reais problemas do Paraná, do Brasil e do mundo. Concorde-se ou não com eles, sabe-se agora quem são.
Ratinho e Cida são dois produtos de suas famílias, tratados a pão de ló e repassados à mão de marqueteiros que lhes ensinam quais palavras usar, quais temas evitar, que imagem repassar. Mas por trás dessa máscara, quem são? Há algo além do que eles exibem para as câmeras? A impressão, infelizmente, é de que não.