Bolsonaro na GloboNews ontem à noite (sexta-feira) com experientes jornalistas: erros e muito nervosismo

Aquilo que já se caracterizava como um problema nas duas primeiras entrevistas,  ficou ainda pior quando a GloboNews encerrou a semana com candidatos à presidente ouvindo Jair Bolsonaro até a madrugada deste sábado, 4.

Se nas conversas com Marina Silva, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Álvaro Dias surgiram erros por  falta de comando especializado de Miriam Leitão e trapalhadas pelo excesso de perguntadores – embora  profissionais experientes – nesta última com Bolsonaro o caldo entornou de vez: pelo menos dois entrevistadores Gerson Camarotti e Andrea Sadi perderam a paciência com o candidato, entrando no jogo dele, quase beirando a agressividade para  tirar respostas que ele não queria dar. Outros também mostraram nervosismo e impaciência.

Um momento de enorme tensão foi quando tentaram obter  a confirmação da opinião dele que em 1964 não houve golpe, que havia dado em entrevista anterior. O candidato recitou de memória uma parte do editorial da capa do jornal O Globo assinado por Roberto Marinho, apoiando 64. O texto  que ele citou:

“Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada.

Quando a nossa redação foi invadida por tropas anti-revolucionárias, mantivemo-nos firmes em nossa posição.

Prosseguimos apoiando o movimento vitorioso desde os primeiros momentos de correção de rumos até o atual processo de abertura, que se deverá consolidar com a posse do novo presidente.

Temos permanecidos fiéis aos seus objetivos, embora conflitando em várias oportunidades com aqueles que pretenderam assumir o controle do processo revolucionário, esquecendo-se de que os acontecimentos se iniciaram, como reconheceu o Marechal Costa e Silva, “por exigência inelutável do povo brasileiro”.

Sem o povo não haveria revolução, mas apenas um ‘pronunciamento” ou “golpe” com o qual não estaríamos solidários….

 Os jornalistas ficaram quietos, porem, quando o programa já havia acabado, Miriam pediu que permanecessem sentados enquanto ela repetia uma nota que sopravam pelo ponto eletrônico. Cena constrangedora, parecendo mais apropriada a alunos que estavam apreendendo ditado. Era um nota editorial do jornal O Globo justificando o texto de Roberto Marinho dizendo que em 2013 o grupo havia publicando um texto admitindo que fora um erro o apoio ao golpe.

Este o texto ditado  à Miriam:

“À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma.”

Os demais participantes, sem entender imediatamente o que acontecia, se entreolhavam enquanto o candidato permaneceu na cadeira vermelha de entrevistado, perdido. Ao que parece a orientação editorial de ler o texto foi tomada apressadamente, criando o constrangimento não só pelo tipo da leitura como pela indecisão que gerou no estúdio: havia acabado ou não o programa?

Havia acabado sim melancolicamente. O candidato saiu maior do que entrou, e a GloboNews – ou pelo menos este formato – bem menor do que se poderia esperar. (Roberto Azevedo).

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