Dago Alfredo Woehl, diretor da Corpreri, fala à RPC/G1/PR sobre as enchentes do Iguaçu
Nos últimos 40 anos, as cheias do Rio Iguaçu provocaram pelo menos quatro grandes enchentes na cidade de União da Vitória, no sul do Paraná: em 1983, 1992, 2014 e, agora, em 2023.
Nesta quarta-feira (18), o nível do rio está em 8,1 metros, inundando quase um terço da cidade, segundo a prefeitura. O nível considerado normal é de aproximadamente 2 metros. Saiba mais abaixo.
Especialistas explicam que a região alaga com tanta frequência por causa da geografia da cidade e do rio considerado o maior do Paraná.
A chance do fenômeno atingir União da Vitória é tão alta que uma placa instalada há 30 anos junto a um poste com as marcas das últimas cheias alerta: “Enchente maior está por vir”.
Placa instalada em 1993 em União da Vitória — Foto: Rafael Torquato/RPC
O presidente da Sociedade de Estudos Contemporâneos – Comissão Regional Permanente de Prevenção contra Enchentes do Rio Iguaçu (SEC-CORPRERI), Dago Woehl, destaca que União da Vitória cresceu em áreas sujeitas à inundação, próximas ao centro urbano.
“As nossas cheias são difíceis de serem combatidas porque a cidade ‘escolheu’ um péssimo lugar para ficar, terreno com baixíssima declividade e porta de entrada do terceiro planalto”, explica.
Woehl também destaca que, na região de União da Vitória, o rio segue por cerca de 27 quilômetros de curvas, passa por um estreitamento e, por fim, chega nas corredeiras em Porto Vitória.
“É difícil que a cidade de União fique totalmente embaixo da água, mas não é impossível”, alerta.
Enchente volta a atingir União da Vitória (PR) — Foto: RPC
RIO IGUAÇU
A geografia do rio na região da cidade também contribui para as cheias.
O Rio Iguaçu tem 1.320 km de extensão. Ele atravessa o Paraná de leste a oeste: nasce na região de Curitiba e segue sentido Foz do Iguaçu, sendo a atração principal das Cataratas.
Na região chamada de Médio Iguaçu, o terreno mais plano está em União da Vitória, que tem altitude mais baixa que a nascente do rio: Curitiba fica 900 metros acima do nível do mar e União, 765.
Diferença de altitude entre as cidades de Curitiba e União da Vitória — Foto: Arte/RPC
Logo depois de União da Vitória, o rio “sobe” para o terceiro planalto paranaense.
Além de ser o ponto mais baixo entre essas duas regiões, na planície de União da Vitória o rio tem muitas curvas – onde a possibilidade de transbordo é maior.
É o que explica o professor de pós-graduação em Geografia e Meio Ambiente da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Francisco Mendonça.
Ele ressalta que nessas curvas a velocidade da água diminui e o relevo serve como anteparo, acumulando mais materiais como areia e dejetos humanos, fazendo com que o rio perca a profundidade.
O desmatamento no entorno do rio também contribui para as cheias, pois a vegetação, que poderia evitar que a água da chuva escorresse rapidamente para o rio, não existe mais.
Quantidade de curvas do rio na região de União da Vitória favorece enchentes — Foto: Arte/RPC