Ministério Público apura descarte de livros no lixo pela prefeita de Canoinhas

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) irá apurar o descarte de livros no lixo realizado pela prefeita de Canoinhas, Juliana Maciel Hoppe (PL), no Planalto Norte. Hoppe publicou vídeo nas redes sociais jogando livros no lixo na quarta-feira (18).

Após a repercussão das imagens, a 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Canoinhas da área da infância e juventude e Educação instaurou notícia de fato para apurar o descarte dos livros. Segundo a prefeita, os livros teriam conteúdo sexual, inadequado para as crianças. A Prefeitura foi procurada pelo SCC10 e não retornou contato até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto.

PREFEITA JOGOU LIVROS NO LIXO

Os livros, que fazem parte do programa Mundoteca do Governo Federal, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, estavam em uma biblioteca do município. A chefe do executivo diz que o conteúdo dos livros “induz a coisa que não são dos valores que a gente acredita”.

Em vpideo, Juliana pede que outros prefeitos verifiquem se possuem esses livros em suas bibliotecas. “Façam a limpa se vocês têm Mundoteca na cidade de vocês”.

Na gravação, a chefe do executivo municipal joga livros no lixo, mas destaca que “eu jamais jogaria um livro no lixo, mas essa porcaria numa biblioteca aqui do nosso município, não vai ter mais não”.

VEREADORA USOU TRIBUNA PARA FALAR SOBRE O CONTEÚDO SEXUAL DOS LIVROS

Antes da prefeita Juliana jogar livros no lixo no vídeo publicado nas redes sociais, a vereadora Tati Carvalho (MDB), havia usado a tribuna da Câmara de Vereadores de Canoinhas para denunciar o conteúdo dos livros. Durante a fala, a vereadora diz que os livros tratam sobre assuntos relacionados a sexo: “Olha só: como se beija, tipos de beijo. Esse é só o começo a preocupação desses pais”.

Conforme a denúncia, pelo menos dois livros tem imagens do corpo humano e desenhos de personagens sem roupa.

Segundo a vereadora, a biblioteca é aberta a todas as idades e as crianças poderiam ter contato com o conteúdo. Ela fez um requerimento para que os livros fossem separados dos demais, para que as crianças não tivessem acesso.

PROJETO MUNDOTECA

O projeto Mundoteca é fomentado pelo Governo Federal, por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Além da cidade de Canoinhas, o projeto está instalado nos municípios de Três Barras e Itaiópolis, em Santa Catarina. Os estados do Pará, Maranhão e Mato Grosso também tem escolas com o programa implementado. O Mundoteca foi criado para proporcionar o acesso gratuito e cotidiano a livros de diversos formatos e temáticas.

O SCC10 entrou em contato com o Ministério da Educação (MEC), mas até a publicação da reportagem não obteve retorno. Mas em outros momentos, o mesmo livro também se envolveu em polêmicas. Em 2016 e 2018, o Ministério da Educação (MEC) informou, em nota, que até aquele momento não havia produzido e nem adquirido ou distribuído o livro “Aparelho Sexual e Cia”. O MEC afirmou, em 2016, que não havia qualquer vinculação entre o ministério e o livro, já que a obra tampouco constava nos programas de distribuição de materiais didáticos da pasta. 

QUAL É O LIVRO CITADO PELA PREFEITA?

O livro “Aparelho sexual e cia. Um guia inusitado para crianças descoladas” é uma publicação pensada para adultos tratarem de temas relacionados ao sexo e ao amor com os jovens. O conteúdo trata de perguntas comuns: Como é estar apaixonado? Como se beijar na boca? Por que crescem pelos e espinhas pelo corpo durante a puberdade? O que é masturbação? Como nascem os bebês?.

Segundo a editora Companhia das Letras, o livro tem objetivo de explicar questões para os adolescentes e pré-adolescentes: “neste guia, com bastante humor mas também com sólida base pedagógica, rigor científico e delicadeza. Inspirado nas aventuras do personagem de histórias em quadrinhos Titeuf — sucesso absoluto na Europa, com onze livros publicados, que venderam mais de dezesseis milhões de exemplares — , Aparelho sexual e cia. traz o humor das tiras do personagem”.

A publicação já teve mais de um 1,5 milhão de exemplares vendidos e foi publicado em dez línguas diferentes.

(SCC10).