Em sessão marcada por ataques, presidente da ALEP, Ademar Traiano, fala em paz de espírito
A Assembleia Legislativa não é mais a mesma. Definitivamente. O corporativismo, tão forte há anos no Poder Legislativo, perde força e as entranhas são escancaradas.
A rede social e a necessidade de dar satisfação para sua “bolha” ajudam a explicar a brusca mudança e tem funcionado como impulso para eleger novos parlamentares, interrompendo inúmeros mandatos e o silêncio ensurdecedor que se instalava a cada novo escândalo.
Na sessão desta segunda-feira (5), o silêncio também se fez presente, mas ao contrário de tempos não tão longínquos, a quietude entre os parlamentares e daqueles que assistiam in loco, era para ouvir quem apontava o dedo contra o presidente da Casa, Ademar Traiano, envolto agora na delação premiada do empresário Vicente Malucelli sobre o contrato com a TV Icaraí — assunto que a juíza Giani Maria Moreschi proibiu de abordar e ainda determinou a imediata retirada do ar das reportagens da TV Globo, RPC e Jornal Plural — sob pena de multa diária de R$ 50 mil, com o argumento de que o processo tramita sob o manto do sigilo.
Até o deputado Ricardo Arruda, pendurado no Tribunal de Justiça com investigações inquietantes, se viu no direito de palpitar sobre o infortúnio alheio. Do alto da Mesa Executiva, o presidente Ademar Traiano (PSD), de forma bastante tranquila e serena, ouviu, não só de Renato Freitas (PT), a imputação de corrupção.
Aliás, o petista, que chegou a pensar que poderia ter o mandato cassado pelo seus pares, justamente por chamar Traiano de corrupto em outra sessão, nesta segunda disse que não aceita outro desfecho no Conselho de Ética que não seja a absolvição. O parecer está marcado para ser apresentado ao colegiado nesta terça.
Quem também fez cobranças foi o deputado Fábio Oliveira que, embora esteja de corpo no Podemos, a alma pertence ao Novo do guru Deltan Dallagnol. Na tribuna, fez duras críticas, assim como havia feito o ex-chefe da Lava Jato nas redes sociais. Oliveira foi além. Apresentou um requerimento endereçado ao Ministério Público do Paraná questionando sobre o Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) assinado pelo presidente e o ex-deputado Plauto Miró.
Logo ele, que pouca discursa e usa a tribuna, não se aguentou e foi um dos mais eloquentes. O deputado Luiz Fernando Guerra, ali mesmo da confortável cadeira, pediu ao presidente Traiano a liberdade de imprensa — cassada pela decisão da magistrada de plantão.
Mesmo depois dos ataques endereçados ao presidente da Casa, jamais imaginados, Traiano conseguiu, pelo menos aparentemente, manter a paz de espírito citada por ele logo no início da sessão plenária. “Com muita serenidade, paz de espírito, tranquilidade, quero informá-los que devido as notícias veiculadas neste final de semana, digo a todos vocês que não farei nenhum pronunciamento, não darei nenhuma entrevista, porque esse tema está em segredo de Justiça. No tempo oportuno trarei à luz da verdade. Era este recado que gostaria de deixar aqui a todos vocês.”
Líder do governo, do mesmo partido de Traiano, Hussein Bakri parafraseou o presidente e disse que vai aguardar, com muita serenidade, o momento oportuno de manifestação do Chefe do Poder Legislativo sobre os fatos.
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